domingo, 17 de março de 2013

Marrequinho: Retrospectiva - Capítulo XXXI

A MÚSICA CAIPIRA, NAS SUAS ORIGENS 

Era cantada despretensiosamente, sem qualquer intenção de demonstrar qualidade interpretativa, por gente simples, quase sempre desprovida de um maior conhecimento sobre o assunto, sendo seu intuito apenas fazer um desabafo d'alma. Excepcionalmente, era cantada até por duplas improvisadas, geralmente modas de viola, quando um dos "parceiros" sabia a letra e a música da moda, e, o outro, não. Mesmo assim, ajudava na cantoria. Nessas ocasiões, as pessoas presentes, que formavam a plateia, se sentiam empolgadas, e, querendo prestigiar os "artistas" locais, improvisados, participavam da exibição acompanhando, o ritmo da viola, batendo nas palmas das mãos e marcando o compasso, com os pés, no chão. Acredito que essa manifestação espontânea tenha sido o início do que hoje conhecemos como a dança do catira. 
Mas, as raízes, de onde se originaram os costumes desse procedimento é assunto para os historiadores e pesquisadores, que eu estou apenas fazendo comentários sobre impressões pessoais, armazenadas nas minhas lembranças. 

A MÚSICA CAIPIRA CHEGA AO RÁDIO E AO DISCO 

Algumas duplas (geralmente formada por irmãos), deixando suas paragens, transferiram-se pra cidade, chegaram ao rádio e posteriormente ao disco, conservando o seu estilo autenticamente caipira, com seu linguajar típico e suas músicas tão simples quanto o próprio sertão, fonte da inspiração de onde elas foram tiradas. Até hoje temos expoentes desse segmento musical que detém uma respeitável parcela de público que demonstra respeito e conserva dentro de si a sensibilidade e a preferência musical trazidas das suas origens. 
Infelizmente, infiltraram-se entre os autênticos cantadores da música caipira, elementos que não pertenciam ao seu círculo, a levaram para o terreno do humor, e, sem se dar conta do que estavam fazendo, deturparam a pureza existente, até então, na sublime brasilidade contida na musicalidade do cancioneiro vindo lá do sertão. Eram imitadores, que, não tendo nada de seu, com que pudessem contribuir com a expansão da nossa música acabaram provocando um retrocesso na mesma. Imitavam, de forma grotesca, o cantador caipira que trazia na alma, a alma do próprio Brasil. Contribuíram com que o termo, caipira, fosse usado frequentemente, no sentido pejorativo. Felizmente foram poucos, os "artistas" que usaram esse artifício para se promoverem, tentando criar prestígio a custa dos outros, copiando uma imagem e plagiando uma autenticidade que eles realmente não tinham. Eram falsos caipiras. Prova disso é que desapareceram, sem deixar rastros na lembrança do público. Esses pretensos "artistas" davam a entender que o personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, era tipo padrão do caipira brasileiro. Insensatez, deles e, do Lobato, também, que mais tarde procurou se retratar. 

A MÚSICA SERTANEJA e/ou A MÚSICA CABOCLA 

A partir de 1.955, nos meios artístico, radiofônico e fonográfico, para evitarem a estigmatizada denominação, música caipira, o termo caipira foi sendo substituído por alguns dos seus inúmeros sinônimos. Sertanejo e Caboclo pareciam ser os mais apropriados para compor uma nova denominação para a música caipira. Na verdade, significavam a mesma coisa, mas, soavam melhor, pareciam ser mais abrangentes. Acabou prevalecendo a expressão: Música Sertaneja. Que nessa época começava a ser "trabalhada", aperfeiçoada e formatada para fins comerciais, mas, ainda sem ter se afastado muito, das suas raízes. A música caipira é a raiz, de onde surgiu a Música Sertaneja Tronco. Desse tronco surgiram os galhos representados pelos diversos segmentos existentes hoje. Todos esses segmentos ou estilos, sem exceção, são vinculados á música caipira. Só que, os representantes de cada um desses segmentos têm características e estilos próprios, e, identificam seu espaço pela roupagem, pela temática, pelas linhas melódicas e pelo grau de competência interpretativa assim como pelo visual de cada um de seus intérpretes. 

A partir da década de 40 (Século XX) 

Alguns dos pioneiros na formação da música sertaneja Tronco: 
Serrinha e Caboclinho

Raul Torres e Florêncio

Tonico e Tinoco

Viera e Vieirinha

Sulino e Marrueiro 

Alguns dos que ingressaram no meio artístico, a partir da chamada explosão da Música Sertaneja (1.980) acharam a casa feita. Mas resolveram modificar a estrutura e alterar a fachada e a denominação de um patrimônio que, na realidade não havia sido construído por eles. E, a nossa tradicionalíssima música sertaneja passou a ostentar os apelidos de: 
Música Sertaneja Raiz 
Música Sertaneja Urbana 
Som Rural 
Música Urbaneja 
Música Sertaneja Universitária (?) 
Música Sertaneja Popular Brasileira 
Atualmente é chamada de Música Sertaneja Moderna 

A partir da década de 70 (Século XX) 

Alguns pioneiros na formação do segmento que hoje conhecemos como “Música Sertaneja Moderna”: 
Zezé Di Camargo & Luciano 
Leandro & Leonardo 
Chitãozinho & Xororó 
Christian & Ralf 
Bruno & Marrone 
Chico Rey & Paraná 
Di Paullo & Paulino e, muitos outros. 
Esses atingiram o mais alto patamar da preferência do público brasileiro e o mais alto índice de vendagem de discos no transcorrer das últimas décadas do século XX e na primeira década do século XXI. 

Árvore Genealógica da Música Sertaneja 

O que determinará a preferência musical das pessoas?
Acredito que são vários fatores: A origem do indivíduo, a influência do meio em que vive de seu grau de sensibilidade, de sua intelectualidade, do seu perfil psicológico e da formação emocional de cada um. 



Contato com Marequinho:



* Trigésimo Primeiro capítulo do livro "Marrequinho - O Menino de Campo Formoso", de Francisco Ricardo de Souza. Imagens: Acervo Pessoal. Publicação autorizada pelo autor. Todos os direitos reservados.

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