Florentino Nunes de Paula, que tem o seu nome lembrado
com frequência em Orizona, por ter deixado ampla descendência e por ter dado grande
contribuição ao desenvolvimento do município, foi homenageado por ocasião do centenário
de seu nascimento, quando teve seu busto colocado no trevo de acesso à cidade.
A inauguração da rodovia Pio José da Silva, trecho
da GO-330, aconteceu em 28 de setembro de 1985, com a presença de milhares de
pessoas e também do prefeito municipal de Orizona, Joaquim Pereira de Freitas,
do governador Iris Rezende Machado, do arcebispo de Goiânia Dom Antonio Ribeiro
de Oliveira, dos deputados Joaquim Roriz e João Natal de Almeida e do senador e
secretário de governo Lázaro Barbosa. No trevo nomeado Florentino Nunes de
Paula, foi inaugurado o trecho da rodovia e dos bustos de Florentino Nunes e
Pio José da Silva.
Florentino, assim
como Pio José da Silva, deu grande contribuição ao transporte rodoviário e à
economia da região que hoje conhecemos como Estrada de Ferro. Pio participou do
processo de emancipação do município de Campo Formoso, foi um visionário e trouxe
o primeiro veículo para a cidade, além de ter criado a Auto Viação Sul de
Goiás, uma das primeiras empresas de transporte coletivo do Estado, e construído
com o esforço próprio e de seus sócios, a estrada entre Roncador e Anápolis,
que teve a primeira linha inaugurada em 28 de fevereiro de 1920 (no centenário
desta grande obra, publicaremos aqui, um texto sobre os grandes feitos deste
pioneiro)[1]. Florentino criou o transporte de cargas em Campo Formoso e
fortaleceu sobremaneira a economia rural do município e o comércio nos
municípios da região.
Florentino Nunes de Paula nasceu em 13 de agosto de
1885, na fazenda Marinheiro, município de Campo Formoso, hoje Orizona. Morreu
em 24 de novembro de 1959. Era filho de Isidoro Nunes de Paula, natural de
Patrocínio-MG, e de Rita Vieira de Jesus, natural desta freguesia.
Seu pai Isidoro nasceu em 04 de abril de 1863, na Fazenda Serra Negra (Patrocínio) e faleceu em 23 de novembro de 1937. Era filho de Manoel Nunes de Paula e Maria Angélica de Jesus. Veio de Minas Gerais para se casar com uma filha do
fazendeiro Florentino Vieira da Motta e de Maria Joanna de Jesus (Inhazinha).
Casou com Rita Vieira de Jesus (nascida em 1869) e foram morar na região do Marinheiro, junto ao sogro.
Florentino foi o primogênito do casal e somente três
anos depois, nasceu Joaquim Nunes de Paula, o segundo filho de Isidoro e Rita. Foi
batizado naquela mesma região, recebendo o nome do avô materno e possivelmente
de um tio, que se tornou seu sogro. Na região do Marinheiro, aprendeu as
primeiras letras e as operações fundamentais, percentagens e juros, sendo aluno
do mestre Biquet. Cresceu na lida do gado e da lavoura. Além de Joaquim, teve
como irmãos, Alvina, Itelvina, Francelino (que dá nome à escola municipal),
Maria Angélica e Maria Nunes. Na mesma época que Isidoro veio de Patrocínio para o
então sertão de Santa Cruz, com o propósito de casar com uma filha de
Florentino e Inhazinha, também chegou o amigo Florentino Vaz da Costa, que se
casou com Rozenda Vieira de Jesus, outra filha do pioneiro. Do consórcio
Florentino/ Rozenda, nasceu Anna Vaz da Costa (Sinhazinha).
Anna Vaz da Costa se casou com o primo Florentino
Nunes de Paula em 15 de setembro de 1913. Tiveram nove filhos: Realino,
Etelvino, Orcalino, Dorvalino, Valdivino, Castorina, Iracema, Anardino e Maria.
Após as núpcias, foram morar no Córrego do Meio, um pouco acima da sede da
fazenda Marinheiro, onde instalou loja de secos e molhados. Passados alguns
anos, mudou-se para a fazenda Buritis, depois Poções e Sussuapara, onde se
instalou definitivamente.
Conforme a filha Castorina Nunes Vieira, “devido à precariedade das escolas e sonhando
com futuro mais promissor para os filhos, mandou-os estudar em internatos de
Padres e Freiras encaminhando a cursos superiores”. A filha disse também
que o pai tinha “ampla visão de futuro”
[2].
Em 1926, adquiriu um caminhão International, veículo até então inexistente no município de Campo
Formoso. Como não haviam estradas adequadas, as primeiras vias foram abertas
pelos empregados, com machados, foices e picaretas. Florentino, então, aumentou
seu comércio, transportando com mais facilidade e rapidez, porcos (na época era
conhecido como o maior comprador de capados do município), bovinos e cereais
das fazendas para as cidades mais desenvolvidas, retornando com mercadorias que
seriam vendidas aos fazendeiros do município.
Conforme Castorina, “o trabalho de Florentino foi assim tão profícuo porque contava com sua
esposa, enérgica, laboriosa e inteligente que cobria em sua ausência a tarefa
de educar os filhos e administrar a fazenda e o armazém”.
Florentino nunca mais ficou sem caminhão, tendo sido
seus motoristas: Hozana da Silva, Ubaldino de Oliveira, João Mesquita,
Juscelino Mesquita (Nonhô), Vicente da Bárbara, Braulino Vieira Rosa, Francisco
Pimpão, Pedro e Joaquim Pimpão, Benedito Brito (Lilica), Antonio Coreiro,
Etelvino Nunes, Filogonho Borges, Antonio Lobo, Aristóteles Teixeira, Abel
Pereira, Veluziano Martins, João Rebolo, Rigosino de Carvalho e outros [3].
Por ocasião da inauguração do seu busto em 1985, em
que estavam presentes filhos e netos, a família e o professor Olímpio Pereira
Neto prepararam um discurso em homenagem ao mesmo. Contudo, o mesmo foi vetado
pelo cerimonial do Palácio das Esmeraldas.
Nesse discurso, publicado posteriormente no jornal O
Pioneiro, era afirmado que “homens como o
Sr. Florentino Nunes de Paula são marcos fincados à beira da estrada da vida e
que desafiam as intempéries do tempo e os preconceitos diversos”. O texto concluía
afirmando que “nós, orizonenses,
orgulhamos por esse exemplo de virtude que serve de modelo e estímulo para os
jovens”[4].
ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)
FONTES DOCUMENTAIS:
1. A Informação Goyana. Vol 4. Nº 11, pág. 82-83 - jun/1921.
2. O Pioneiro. Nº 1, pág. 3. Orizona-GO:
setembro/1985.
3. O Pioneiro. Nº 2, pág. 2. Orizona-GO: dezembro/1985.
4. Para mais informações sobre a história da família Nunes, ver NUNES, Fabrício Carvalho. Fazenda Marinheiro - Orizona: uma viagem genealógica entre a Europa e os sertões do Brasil. Goiânia: Kelps, 2020. 646 p., ainda sem lançamento.