sábado, 29 de abril de 2023

Uma árdua despedida

Em um domingo não tão distante, tive a oportunidade, juntamente com Jeová Vieira, de visitar a residência da senhora Maria Luiza Pinto Ribeiro e Joaquim Ribeiro, um programa que desejava fazer a muito tempo. Chegando lá, encontramos filhos e suas famílias já de saída, após o almoço dominical. Em uma ocasião que fomos para fazer uma entrevista com o Sr. Joaquim sobre a história de seus antepassados, pude falar, em meio ao cansaço e falta de ar, com a Sra. Maria Luiza, que compartilhou momentos muito ternos e dolorosos de sua vida.
Mostrou os quadros de sua sala e cozinha, poemas do Joaquim Ribeiro, que desde jovem escreve para declarar o seu amor (se casaram em 10/03/1956), da dor interminável da perda de uma filha, a difícil jornada pela vida do primogênito após seu nascimento e mais recentemente. Nesta altura, imagino neste momento, a dor tremenda deste pai e desta mãe ao ter que despedir de mais uma filha depois de uma jornada novamente muito dura, mas que a esperança foi sempre mantida. Ao mesmo tempo, firmo a acreditar que no alto de suas maturidades, que continuarão tudo com muita sabedoria.
Conheci Ana Lúcia provavelmente em janeiro de 1999, em uma assembleia do Centro Social Rural de Orizona no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ana Lúcia, Felipe e as filhas Carolina e Daniela Dias tinham retornado de Castro, no Paraná, depois de viverem por um tempo ali. Felipe fora convidado a integrar a equipe da Escola Família Agrícola, que estava preste a iniciar suas atividades. Por seis anos Felipe Dias se manteve na EFA e a família, em alguns momentos, se fez presente.
Continuando: a minha convivência pessoal com Ana Lúcia foi maior no período dos dois primeiros mandatos de Felipe Dias a frente da Prefeitura de Orizona. Como secretária de Ação Social principalmente no primeiro mandato (2009-2012), foi discreta e não adepta de palanques e exposições. Por outro lado, tinha uma postura terna e firme, cumprindo a função múltipla de secretária, primeira-dama, mãe, esposa, filha, dona de casa, etc, uma gama de funções que nós homens dificilmente conseguiríamos empreender. Para a nossa sorte, Ana sempre teve a cara e o jeito do povo de Orizona.
No segundo mandato, deixou a secretaria para que Benedito Gonçalves assumisse, teve mais tempo para administrar a sua casa e os interesses familiares, já que o serviço de agente público exige um esforço praticamente integral. Na sua residência, muitas foram as reuniões importantes, na sala de estar ou na sua cozinha, sempre ao lado do café e pão de queijo, magistralmente preparados para que os encaminhamentos fossem os melhores possíveis. Conheci poucas pessoas a receberem tão bem as visitas quanto Ana Lúcia. Vejo nisso tudo um pouco de Joaquim Ribeiro e Maria Luiza e da família dos Sr. Daniel Felipe, pai do prefeito.
E naquela belíssima obra da arquitetura que é a sede de sua propriedade rural, construída com a intervenção direta de Felipe, fatos importantes, como o casamento da filha, eventos partidários, festas de aniversário do prefeito com a presença de centenas de pessoas, marcaram o papel de administradora daquele lar.
Daí veio o indesejado. Quase todas as famílias enfrentam os seus dramas, alguns menos, outros mais duros. Depois dessa jornada, não posso utilizar daquela máxima “Deus quis assim”, pois não acredito nisso. Não acredito que Nosso Senhor queira o sofrimento de seus filhos. Ele espera a nossa fé, especialmente na Ressureição. Ele também quer que não desistamos nunca. E é certo que Ana e sua família jamais desistiu. A prova disse é que muitas vezes, Felipe tinha uma jornada grande de trabalho em Orizona e depois seguia para Goiânia, para ficar ao seu lado. Pessoalmente, vejo isso acontecer comigo e com colegas em nosso tratamento em Porto Alegre, quando esposas e esposos (principalmente esposas) largam tudo e não arredam o pé em nenhum momento.
Infelizmente, neste sábado (29), Orizona lamenta e se despede de Ana Lúcia Pinto Ribeiro Dias. Depois de velório na sede da Secretaria Municipal de Ação Social e Câmara Municipal de Orizona, onde foi homenageado em sessão solene, foi sepultada no Cemitério Municipal. Depois desse momento, parece que uma sobra, uma ressaca, pairam sobre nós. Como muitos dizem, é momento que a ficha começa a cair.
Por tudo que Ana Lúcia representou para Orizona, mas especialmente para a sua família e amigos, desejo que todos os enlutados possam ao longo dos tempos irem superando esta grande perda, cada um e cada uma a seu momento, mas que superem.

Antepassados de Ana Lúcia:
Ana Lúcia, filha de Joaquim Ribeiro e Maria Luíza Pinto Ribeiro, é neta pelo lado paterno de Pedro Ribeiro Corrêa e Maria Antonia de Jesus. Do lado materno, é neta de João Câncio Pinto e Eurídice de Castro. O senhor Jeová Vieira brincava com Ana por causa da presença de prefeitos em sua trajetória. Começando do esposo Felipe Dias, prefeito no terceiro mandato (2009-1916; 2020-...), era neta de Pedro Ribeiro Corrêa (prefeito de 1955-1958) e bisneta de Rodolpho Fernandes de Castro (prefeito de 1947-1950), sem contar que é tetraneta do Cel. Joaquim Fernandes de Castro, um dos fundadores de Orizona, trineta do juiz municipal José Fernandes de Castro e bisneta dos conhecidos fazendeiros Manoel Ribeiro Correa e João Mariano de Oliveira.

Homenagens:
Ao longo do dia 29, diversas pessoas externaram o pesar pelo falecimento de Ana Lúcia. Foram servidores municipais, secretários, vereadores e cidadãos e cidadãs do município de Orizona. O presidente da Câmara, Flávio Dias da Silva, decretou luto oficial em todo o Município. A Escola Família Agricola de Orizona, que teve o prefeito Felipe Dias e seu irmão José Augusto como professores por um bom tempo, o Sr. Joaquim Ribeiro, seu pai, como dirigente do Centro Social, lamentou em nota a morte da primeira-dama.
O vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (MDB) disse em suas redes sociais: "recebi a triste notícia do falecimento da primeira-dama de Orizona, Ana Lúcia Ribeiro Dias. Ao meu amigo, o prefeito Felipe Dias, fica o meu sincero desejo que Deus possa acalentar o seu coração e de toda a sua família".
O deputado federal José Nelto (PP) lamentou pedindo "que todos, em especial a família, possam encontrar a paz e o consolo neste momento tão difícil". A Associação Goiana de Municípios (AGM), através do presidente Carlão da Fox desejou que "Deus em sua infinita sabedoria conforte o coração dos familiares e amigos".


ANSELMO PEREIRA DE LIMA

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Francisco Accioli, Maria Theófila e a Educação em Campo Formoso

Francisco Accioli Martins Soares nasceu em Neópolis, Estado de Sergipe, em 11 de outubro de 1881. Foi um político pioneiro em Pires do Rio e viveu também em municípios do sul de Goiás e Triângulo Mineiro. Era filho de José Leandro Martins Soares e Maria Emília Batista Martins Soares. Casou com a professora Maria Theofila Gonçalves, filha de João Gonçalves de Araújo e Francisca Ferreira de Araújo. Faleceu em Pires do Rio. Era farmacêutico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Entre 1913 e 1925 moraram em Campo Formoso (Orizona), onde Francisco manteve uma farmácia. Em 1914 foi nomeado sub-promotor do município, mas declinou a nomeação. Fundou ali, junto com José da Costa Pereira, o Colégio Bento XV, onde lecionava francês e história.
De acordo com o que consta em seu livro “Pontos Históricos de Pires do Rio” (1988), Francisco Accioli fundou com a esposa Maria Teófila Gonçalves Martins, em Araguari-MG, a Escola Particular “Trabalho e Perseverança”:
Fundada em 1906 em Araguari-MG, encerrando-se no ano de 1908 os seus trabalhos e reabrindo-se em 1909 a sua diretora, na cidade de Pouso Alto, hoje Pirancanjuba. Essa escola foi transferida para a antiga cidade de Campo Formoso, atualmente Orizona, em 1913 e, finalmente para Pires do Rio, em 1925, onde funcionou até o ano de 1938. Sua fundadora, minha esposa Maria Teófila Gonçalves Martins Soares alfabetizou grande número de alunos, que hoje, muitos deles, são médicos, bacharéis, farmacêuticos, engenheiros e outros ocupantes de profissões liberais diversas, ocupando muitos deles, posição de destaque em ambos os Estados, quer na vida particular ou na pública. Deixou a professora Mª Teófila as suas atividades escolares sem que, em tempo algum, tivesse recebido qualquer recompensa dos dois Estados onde trabalhou”.
Quando estiveram em Pouso Alto pela primeira vez (voltaram a morar no município na década de 1940), veio ao mundo o filho João Accioli (foto), um dos mais prestigiados poetas goianos. De acordo com Antonio Miranda, João Batista Gonçalves Accioli Martins Soares (João Accioli) nasceu em 1º de outubro de 1912, e faleceu em 1º de maio de 1990. Fez o primário com a própria mãe, Maria Teófila Gonçalves Martins Soares. No Ginásio Diocesano de Uberaba (MG) cursou Humanidades, e naquela escola também se destacou pelas atividades literárias.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (SP), onde atuou com destaque na Academia de Letras da escola, e, como clarinetista, tocou em orquestras paulistas. Especializou-se em advocacia trabalhista. Ajudou, como um dos fundadores, na constituição do Partido Progressista. Em suas atividades políticas, ocupou a Secretaria de Educação e Cultura da prefeitura de São Paulo. Chegou a ocupar a presidência da União Brasileira de Escritores, e foi membro da Academia Goiana de Letras.
Edméa Gonçalves Accioli (1916-1955), casada com Emílio Rincon Segóvia (1915-1991); Maria Emília Martins Soares Mendonça, casada com Américo Carneiro de Mendonça, também foram filhas do casal.
Em Pires do Rio e Santa Cruz, Francisco Accioli deixou um legado político muito relevante. Em Morro Alto não foi diferente. Por onde essa família passou, deixou a marca de sua intervenção positiva.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA