quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Conflitos de Jurisdição entre Campo Formoso e Santa Luzia - PARTE III


No período histórico que parte de maio de 1909, Campo Formoso definitivamente não estava em situação confortável em relação aos municípios vizinhos. As questões de terra e território entre o município e Santa Luzia suscitaram o interesse de Santa Cruz em rever as suas limitações territoriais com Campo Formoso.
Desta forma, foi apresentado ao Senado Estadual em meados de 1910 o projeto de Lei n. 12, que estabelecia limites entre Campo Formoso e Santa Cruz. O objetivo era rever os limites dos territórios a partir do que foi aprovado pela lei n. 347 de 08 de julho de 1909.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Conflitos de Jurisdição entre Campo Formoso e Santa Luzia - PARTE II


Continuaremos hoje tratando das questões referentes aos conflitos de jurisdição ocorridos na década de 1910 entre os municípios de Santa Luzia (Luziânia) e Campo Formoso (Orizona), apresentados introdutoriamente em texto publicado no blog Orizona em Foco (ver link https://orizonaemfoco.blogspot.com/2018/12/conflitos-de-jurisdicao-entre-campo.html). Por cuidado, na busca da coerência com os fatos, transcreveremos trechos ou a integralidade de documentos, na busca da clareza e da coerência com o que de fato aconteceu na época.
A primeira manifestação na imprensa da questão do conflito se deu em “O Planalto”, semanário de Santa Luzia, dirigido por Plácido de Paula e Evangelino Meirelles. Na edição número 05, de 03 de setembro de 1910[1], um editorial intitulado “Mentira Ostensiva”, critica o presidente do Conselho Municipal de Campo Formoso, José Albino de Oliveira, por levar o fato ao Presidente do Estado de Goiás, Urbano Coelho de Gouveia:

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Conflitos de Jurisdição entre Campo Formoso e Santa Luzia - PARTE I

O texto apresentado pelas leis estaduais n. 277, de 12 de julho de 1906, e n. 347, de 08 de julho de 1909, em muito resolveu os anseios dos moradores de Campo Formoso (Orizona), mas trouxe efeitos colaterais que se arrastaram pelo menos pela década seguinte. É que essas leis apresentavam em sua redação brechas importantes e não tratavam sobre as novas divisões territoriais com os vizinhos Bomfim (Silvânia) e Santa Luzia (Luziânia). A lei n. 277, que elevou Campo Formoso à Vila, define em seu Artigo 1º que “fica elevado à categoria de Vila o arraial de Campo Formoso, da Comarca de Bomfim, constituindo o respectivo distrito um município com a mesma denominação e sede”.
Sobre a divisão territorial, a lei (Artigo 2º) diz que:
O novo município limitar-se-a: com os municípios de Santa Luzia e Bomfim com as mesmas divisas anteriores e até hoje respeitadas; partirá a divisa da do município de S. Cruz, no Rio do Peixe e por este até a barra do ribeirão do Baú, por este acima até a fazenda de Benedito Gonçalves de Araújo, abrangendo-a, e dali seguindo em linha reta ao morro da Onça, dali seguindo as divisas da fazenda do Antonio Rodrigues, abrangendo-o até o ribeirão do Corrente, e por este abaixo até a sua barra no Rio Corumbá[1].

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Contribuições do professor Salviano Pedro Borges para Campo Formoso

Provavelmente originário do município de Santa Juliana, Triângulo Mineiro, onde exerceu entre outros cargos o de agente dos correios, o professor público Salviano Pedro Borges teve a sua presença conhecida em Campo Formoso (Orizona) a partir de 1899[1], quando foi nomeado aos 08 de outubro como professor público do Escola de Primeira Entrância do Sexo Masculino, equivalente ao ensino primário. Também nesta época acumulava a função de delegado literário, uma espécie de inspetor da educação no distrito. Acumulou o cargo de professor até 20 de dezembro de 1906[2], quando pediu exoneração após ser nomeado coletor de rendas municipais.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Apontamentos sobre o Processo de Emancipação Política de Campo Formoso, hoje Orizona


Em 15 de novembro de 1889 foi consagrada a conspiração política que derrubou o Império, através do bode expiatório chamado Marechal Deodoro da Fonseca, um antigo monarquista que proclamou a República. Contudo, no Rio de Janeiro e de forma muito pior nas províncias, a população demorou a entender o que estava ocorrendo.
Durante o Império, especialmente na regência de Dom Pedro II, o imperador nomeava alguém das elites políticas (portanto, um forasteiro) de sua confiança e enviava às províncias para presidi-las. O vice-governador geralmente era indicado por influência das lideranças locais. Acontecia que muitas vezes o presidente da província tardava ou nunca chegava e o Estado era governado pelo vice-presidente. Em Goiás isso foi muito comum, principalmente pelo distanciamento geográfico da Corte. Havia normalmente a transição entre representantes do partido Liberal e do Conservador, uma hábil estratégia do Imperador.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Desenterrando Ossos: a antiga sede da propriedade de meus avós paternos na região de Firmeza

Em 2013, um presente do amigo e então Secretário Municipal de Educação, Paulo Acácio de Sousa, me deixou bastante emocionado. Tratava de uma pintura da antiga residência de meus avós paternos, na Estiva de Cima, região da Firmeza. No texto eu dizia que[1]:

Recebi esta verdadeira obra de arte de presente do grande amigo, o professor Paulo Acácio de Sousa, atual secretário municipal de Educação de Orizona. A imagem representa a antiga sede de fazenda onde moraram meus avós paternos Antônio José de Lima e Catarina Maria de Lima, na comunidade de Estiva de Cima, região de Firmeza (Orizona-GO).
O casarão provavelmente foi construído no final do século XIX, por José Pereira de Castro. Depois disso, segundo a poetisa Inês de Castro, moraram na residência Pedro Pereira de Castro, Antônio Silvério, José Adalto e a família de Antônio de Lima, que se viu obrigada a demolir a mesma no ano de 2012, já que os riscos de desabamento eram grandes e a família não tinha condições financeiras de fazer a sua restauração.
Meu pai João Bôsco de Lima e seus outros seis irmãos cresceram ali. Os netos mais velhos também puderam correr pelos seus cômodos enormes de assoalho liso e barulhento. Lembro que a maior aventura era entrar pelo alçapão que dava para o porão da casa, muito escuro e onde às vezes os morcegos nos assustavam. Era muito bom saltar por suas grandes janelas azuis. Os biscoitos e doces feitos pela avó Catarina eram uma perdição.
Sobre esta memória, descobri recentemente o inventário me minha pentavó Maria Filisbina de Jezus[2] e a partir dele comecei a compreender melhor com as coisas se sucederam:
Da viúva Maria Filisbina, falecida em 13 de setembro de 1902, na região da Cachoeira, e de seu esposo Silvério Fernandes de Lima, ambos originários da região de Patos de Minas/Patrocínio – MG, vem toda a descendência da família Fernandes de Lima de origem mineira que chegou a Orizona na segunda metade do século XIX, exceto provavelmente daqueles que são descendentes de Manoel Pedro de Lima, genro do Capitão José Pereira Cardoso e de outros que chegaram posteriormente.
Eram filhos de Silvério e Maria Filisbina:
  1. Francisco Fernandes de Lima – nascido em Patos de Minas por volta de 1841 e casado com Maria Joaquina de Castro, filha de Escolástica Maria do Carmo e José Pereira Cardoso Primo. Tiveram oito filhos: Ermógenes, Honório, Escolástica (casada com Isac Pereira de Castro), Militão, Deolina (casada com Francisco Pereira Cardoso), José Fernandes de Lima Sobrinho (pai do expedicionário Estêvão Fernandes de Lima), meu bisavô Antônio Fernandes de Lima e Maria Joaquina. 
  2. José Fernandes Limas – nascido por volta de 1843 e casado com Anna Justina de Jesus. Entre seus filhos estão Adolfo Fernandes de Lima (pai do Zé Adolfo), meu trisavô Eduardo Fernandes de Lima, José Fernandes de Lima Filho e Maria Justina, esposa do Venâncio Gonçalves Pereira, da Cachoeira. 
  3. Antônio Silvério de Lima – nascido por volta de 1845. 
  4. Maria Silvéria de Lima – nascida por volta de 1847. 
  5. Manoel Fernandes de Lima - nascido por volta de 1849. 
  6. Pedro Silvério de Lima - nascido por volta de 1851. 
  7. Constância - nascido por volta de 1853, casada com Felisardo Gonçalves Pinheiro. 
  8. Anna Felisbina de Jesus – viúva, nascida por volta de 1855. 
  9. Carolina Felisbina de Jesus - casada com Ananias Gonçalves Pinheiro. 
  10. Ritta Felisbina – viúva, nascida por volta de 1859. 
  11. Felisbina Joaquina de Jezus – nascida por volta de 1861, foi casada com José Pereira de Castro (Zeca Pereira), filho de Escolástica Maria do Carmo e José Pereira Cardoso Primo. São os pais do ferreiro Joaquim de Castro, que constituiu grande descendência em Orizona. Foram eles também que entre os anos de 1880 e 1890 construíram a casa acima, objeto da dedicação deste texto. Minha trisavó Escolástica Pereira de Castro, casada com Antônio Joaquim de Sousa também era filha do casal, assim como Maria Cândida, mãe do Zé Lourenço, da região da Beira/ Campo Limpo.
  12. Clementino Silvério de Lima – nasceu por volta de 1863 e se casou com Joaquina Maria de Castro, também filha de Escolástica Maria do Carmo e José Pereira Cardoso Primo. Sabemos de seus filhos Realino e Manoel Fernandes de Lima e Antonio Silvério de Lima, que migraram com suas família para o norte goiano, tendo familiares hoje em Itapaci, Pilar e Minaçu, principalmente. Este Antonio Silvério foi um dos moradores do casarão objeto desta matéria.
Desses filhos, é certo que pelo menos Francisco, José, Filisbina, Carolina e Clementino vieram para a região, conforme documentos históricos e do vestígio das próprias famílias. A sede da fazenda, que obviamente não era a sede principal, cercada de muros de pedra, ficou todo tempo sob os cuidados de pessoas da família.
Sobre esta família, aliás, não eram pessoas de grandes posses, como foram tradicionais famílias orizonenses. Contudo, deixou um legado grande ao município e uma descendência numerosa a partir das regiões de Firmeza e Cachoeira. Esta família teve também grande importância na colonização da região do Vale do São Patrício, que fez originar o município de Itapaci-GO.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)

1. Texto publicado no blog Orizona em foco em 02 de maio de 2013 e atualizado em 27 de novembro de 2018. Veja no link https://orizonaemfoco.blogspot.com/2013/05/a-antiga-sede-de-fazenda-na-regiao-de.html
2. Arquivado no Cartório Judiciário de Orizona, na Caixa 01, Termo 55, aberto em 30/01/1904.
3. Esta não era a residência mais antiga da região da Firmeza. Sabe-se que a casa de Joaquim Fernandes de Castro veio anteriormente e depois, são destaques três outras moradias, conforme relatou-nos Evandro da Silva Gregório (Evandro da Donata): de Adonias Vieira Caixeta (Donico), a mais antiga das três e de Joaquim Gregório Pereira e Francisco Fernandes de Lima. Na Cachoeira, por outro lado, mais povoada na época, experimentava a presença de outras importantes famílias.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dr. Raphael Leme Franco: “A verdadeira política”



O médico paulista Dr. Raphael Leme Franco, que tem a grafia de seu nome insistentemente escrita de forma equivocada por cidadãos e pelo poder público municipal[1], teve uma vida toda de militância em Campo Formoso/ Orizona. Nascido em 07 de setembro de 1895 em Leme - SP, veio para cá e não retornou. Aqui faleceu em 28 de setembro de 1977. Foram mais de 50 anos de exercício da medicina de família e praticando algumas das suas paixões, como a música, a poesia, a filosofia e o estudo da língua portuguesa (era considerado um excelente filólogo). 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Relatos de Moisés Santana sobre a visita do Ministro Pires do Rio ao Roncador em 1921


Goiás, na Primeira República, vivia em condições periféricas de prestígio em relação ao restante do país. Era considerado um Estado satélite, de terceira categoria, sem muita força política. No parlamento (Câmara dos Deputados), somava apenas quatro representantes, que geralmente não exerciam influências junto ao governo e as bancadas.
Esta lógica às vezes mudava momentaneamente, como foi na ascensão de José Leopoldo de Bulhões Jardim, que chegou ao início do século XX ao primeiro escalão do governo Rodrigues Alves, ocupando o cargo de Ministro da Fazenda. Também foi diretor do Banco do Brasil. Graças a sua intervenção (mesmo criticado pelos oposicionistas goianos) foi possível que a via férrea adentrasse depois de muita espera o Estado de Goiás.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

As regiões de Firmeza e Campo Aberto já fizeram parte do Município de Silvânia


Pode ocupar o imaginário do morador de Orizona, ao tentar remeter mentalmente à sua história após ler alguma publicação sobre o assunto, que no período anterior a 1850, o sertão de Santa Cruz, onde hoje está instalado o Município, seria um verdadeiro deserto, sem qualquer ocupação humana. Essa concepção não está totalmente errada, mas não procede plenamente. É importante salientar que a região estava próxima dos principais caminhos desbravados pelos colonizadores, desde as primeiras décadas do século XVIII e que rumavam à antiga capital, Vila Boa.
As primeiras minas de Santa Cruz foram descobertas por Manoel Dias da Silva e em 1737 aparece a primeira referência à Capela Curada dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, de Santa Cruz. Bomfim (Silvânia) foi fundada no ano de 1774 e ficava na Estrada Geral de Goiás. Em 1823, o povoamento dependia administrativamente do julgado de Santa Cruz. Nesta época foram registrados por viajantes sítios e fazendas de moradores que haviam se instalado na região. Entre esses viajantes, o brigadeiro Cunha Mattos e os naturalistas Luiz Alencoust e Auguste Saint-Hilaire.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Como fazendeiros de Santa Cruz contribuíram com a participação Brasileira na Guerra do Paraguai


No início da segunda metade do século XIX, a Província de Goiás estava isolada dos centros econômicos e políticos do Império Brasileiro. A rede ferroviária ainda estava a meio século de adentrar o nosso território. A infraestrutura de estradas e pontes era a mais limitada e arcaica possível.
Politicamente, a província não tinha nenhuma força perante a Corte e em relação ao restante do país. Irrelevante também era a força econômica desse gigante de cerca de um milhão de quilômetros quadrados: a economia era baseada na exportação de gado para outras províncias e as cifras não eram tão significativas assim.
As receitas provinciais vinham principalmente do pouco imposto obtido nesse comércio interprovincial e de outras ninharias arrecadadas. Sem condições de dispor de infraestrutura de fiscalização e com reduzidíssimo efetivo policial, a evasão fiscal era muito grande. Para piorar, a ineficiência governamental do Estado era muito grande. Dessa forma, o governo provincial vivia de “pires na mão” e de hora em hora, pedia ajuda aos fazendeiros e comerciantes que viviam razoavelmente bem ou que sobreviviam nas vilas e freguesias.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Dorvalino Fernandes de Castro, o Primeiro Professor Público da Região de Firmeza


No período do povoamento do sertão de Campo Formoso*, freguesia de Santa Cruz de Goiás, grande parte da população não tinha acesso à formação escolar. Nas fazendas, alguns integrantes das famílias mais abastadas, que tinham alguma formação básica, realizavam o letramento das crianças da família e da comunidade. Algumas dessas famílias influentes ainda enviavam os filhos para estudar nas classes de Santa Cruz e Bomfim (Silvânia), por sinal, de acesso muito restrito. 
Campo Formoso (Orizona) só veio a ter um professor público em 1891, quando se tornou distrito de paz e policial. O primeiro ‘mestre’ foi o professor Luiz da Annunciação de Oliveira Ferraz**, oriundo de Santa Luzia (Luziânia). Mesmo assim, inicialmente havia classe apenas para homens e o acesso ainda era muito pequeno. Apenas a partir do final da década de 1920 começaram a surgir as escolas rurais. Podemos destacar como exemplo entre as primeiras, a da Cachoeira, Ubatan e Borboleta.

domingo, 18 de novembro de 2018

Leo Lynce: "Em Campo Formoso é assim..."

Leo Lynce, pseudônimo de Cyllenêo Marques de Araújo Valle, foi um poeta, advogado, jornalista e político goiano, nascido em Pouso Alto (Piracanjuba) em 29 de junho de 1884. Filho de João Antônio de Araújo Valle e de Eponina Marques de Araújo Valle.
Em 1908, entrou na vida política, elegendo-se deputado estadual. Nas décadas de 1920 morou e foi professor em Urutai (foi diretor da Fazenda Modelo, hoje IF Goiano - Campus Urutai), militou como advogado em Campo Formoso (Orizona), Bonfim (Silvânia) e Vila Bôa (Goiás). Foi nomeado, em 1927, Juiz de Direito de Santa Cruz de Goiás. Em 1930, tornou-se Juiz de Direito de Pires do Rio. Em 1938 atuou em Bella Vista (Bela Vista de Goiás) também como Juiz de Direito.