quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Uma jornada coletiva pelo transplante pulmonar

Nesta data de 30 de agosto em que completamos um ano de estadia em Porto Alegre, tenho certeza que tudo foi possível até agora pelo apoio da comunidade, amigos, familiares e até desconhecidos, que através de campanhas colaboraram financeiramente, mas também contamos com o apoio do poder público municipal com transporte, oxigênio e equipamentos, além do esforço de pessoas que permitiram viabilizar e garantir que as coisas acontecessem.
Em setembro/2021, as pneumologistas Flávia Velasco e Ana Cecília, do HC/UFG, deram os primeiros encaminhamentos para que meu nome fosse enviado a Central de Transplantes de Goiás e posteriormente à Central Nacional. No início de dezembro daquele ano tive a primeira consulta na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Depois vieram ao longo de 2022 outras consultas e exames, realizados em Porto Alegre e Goiânia, sempre deslocando a partir de Orizona/GO.
No final da tarde de 05 de agosto de 2022, recebemos a notícia tão esperada: a informação que eu tinha sido incluído na lista de espera de transplante pulmonar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Agora seria momento de preparar a mudança para a capital gaúcha. Decidimos que as crianças iriam conosco, apesar de algumas objeções. Hoje, imagino o que seria de nós se não estivéssemos juntos nesta jornada insana. Minha mãe Neusa Rosa também decidiu mudar conosco e isso foi muito bom.
Nos dias seguintes foi a preparação para a viagem. Não levaríamos mudança e tudo que precisávamos deveria caber em seis malas de viagem. Em Porto Alegre, a comadre Saraí Brixner e o compadre Isnar Borges viabilizaram um bom apartamento e com preço razoável bem próximo a Santa Casa. Outro fator que facilitou ou a incrível capacidade de comunicação e diálogo da Iara, que conheceu muitas pessoas que estavam envolvidas no processo do transplante, permitindo que muitas dúvidas fossem sanadas na medida que surgiam.
Entre os dias 05 e 30 de agosto, continuaram as minhas idas em Goiânia para consultas e de forma muito intensa. Sempre era acompanhado por minha mãe, pelo meu pai João Bosco e pela Iara. Vários foram os condutores de ambulância que me levavam: Joaquim Júnior, Elpídio Neto, Nivaldo e Rildo. Era uma jornada muito árdua, dadas as minhas condições clínicas.
O vereador Rivadávia Jayme nos auxiliou em demandas junto ao prefeito Felipe Dias, assim como precisamos do apoio do Ministério Público, mas junto ao prefeito e aos secretários de Saúde e Finanças atuais, o apoio foi viabilizado sem muitas dificuldades. Da gestão municipal anterior posso dizer o mesmo. Sempre houve grande sensibilidade para meu caso. Sobre as profissionais de saúde de Orizona, somos muito gratos a fisioterapeuta Cintia Aparecida de Sousa e a psicóloga Adriana Ribeiro Jayme, pelo cuidado que tiveram no meu tratamento. Cíntia cuidou da minha reabilitação pulmonar e Adriana ajudou a preparar toda a família para momentos muito desafiadores que estavam por vir.
Enquanto preparávamos a mudança, recebemos muitas e agradáveis visitas. No dia 14 de agosto, por exemplo, recebemos os amigos e companheiros da família dominicana: o frade José Fernandes Alves, as irmãs dominicanas da comunidade de Orizona, a irmã Maria Irenilda Pitombeira, a Maria Nazaré, secretária da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil junto com sua filha Bruna Carvalho. Na oportunidade rezamos o Ofício dos Enfermos e foi nos feito o envio.
Também recebemos na tarde de 19 de agosto, os amigos e colegas de trabalho da Escola Família Agrícola de Orizona e diretoria do Centro Social Rural de Orizona. Também recebemos o padre Joel Gomes Martins de Souza, administrador da paróquia Nossa Senhora da Piedade de Orizona, que celebrou conosco, me deu a unção dos enfermos e enviou nossa família para esse desafio. Também esteve conosco a Srta. Bernadete Silva, uma pessoa muito querida, a colega e amiga Ana Lucia Pereira Coelho, comadre Viviane, o afilhado Gabriel e o amigo Altamiro Fernandes de Castro. Em outras ocasiões recebemos as integrantes da Pastoral da Criança, o sr. Rivadávia Jayme, o sr. Benedito Gonçalves, Zilmar Ramos e sua mãe Abadia e diversos familiares, entre eles o compadre e cunhado Paulo Eduardo e família, que vivem em Gurupi/TO.
Momentos fortes que tivemos foram os da campanha que a comunidade orizonense e de outros municípios realizou para nos ajudar nas despesas nesta nova jornada. Seja pela generosidade com apoio financeiro, seja com orações intensas, milhares de pessoas, das mais diversas denominações religiosas, foram fundamentais durante todo esse processo. Destaco em especial o apoio de grupos (Pastoral Familiar, Pastoral da Criança, Apostolado da Oração, CEBI) da Igreja Católica e integrantes da Igreja de Cristo Ministério Nova Terra de Orizona. Também lembro do papel do Centro Social/ EFAORI, de associados do Sindicato Rural de Orizona, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Cresol. Mas a solidariedade vai muito além daí.
Na véspera do dia 30 de agosto de 2022, Iara teve pouco tempo para dormir. No dia da viagem, padrinho Antônio Baiano em seu veículo particular e o motorista da secretaria municipal de Saúde, Joaquim Júnior, na ambulância, nos levaram até o Aeroporto Internacional Santa Genoveva de Goiânia. Saímos de Orizona por volta das 6 horas. Em Goiânia, Frei José Fernandes Alves nos esperava. Júnior e José Fernandes nos apoiaram até subirmos para o embarque. O check-in foi bastante demorado e o oxigênio do concentrador ficou pouco. Confesso que ali já estava bastante cansado.
A primeira etapa do voo, de Goiânia/GO a Congonhas/SP foi o primeiro da vida do Francisco. Mamãe, Antonio e Dandara também não viajavam de avião havia um bom tempo. Fomos em um Airbus A320 da Latam. Quando pousamos em São Paulo e fui descer da aeronave, passei mal com falta de ar (nem foi tão forte), mas as comissárias trouxeram equipamentos de primeiros socorros, acionaram médicos a bordo e os socorristas do aeroporto. Nessas horas sempre aparecem uma porção de pessoas se dizendo médicos, mas que não sabem proceder muito na situação, porque não conhecem o histórico do paciente. E o grande número de pessoas ao meu redor só prejudicou a minha ventilação.
Fui levado por uma equipe de socorrista para o Centro Médico do aeroporto, fazendo com que perdêssemos o voo e os próximos que saíram para Porto Alegre. Fiquei no Centro Médico boa parte da tarde e a família de ‘castigo’ e sentindo frio. Só pegamos o voo de 17:50h, também em um Airbus A320 da Latam. As bagagens haviam sido despachadas para Porto Alegre no voo previsto das 13 h e as encontramos nos esperando no Aeroporto Salgado Filho.
Chegamos à noite em Porto Alegre e pegamos dois táxis e fomos para a Pousada & Hostel Bahia, no Centro Histórico, onde ficaremos hospedados até encaminhar a documentação, a ligação da energia elétrica e a compra da mobília do apartamento que alugamos. Mamãe e Iara ainda saíram para comprar comida, pois alguns de nós estavam inclusive sem almoço. E a espera foi grande. O hostel era muito desconfortável e ficamos amontoados em um quarto com direito a uso de um banheiro. Foram dias frios e úmidos.
No dia 02 de setembro, dada as condições que estávamos, a Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul nos emprestou um apartamento no 10º andar da Galeria Santa Catharina. A entidade é proprietária do apartamento que alugamos no mesmo prédio. No dia 05 de setembro o apartamento foi liberado e finalmente iniciamos a mudança para o 16º andar. Nessa altura, Iara conseguiu matricular Dandara e Antonio em um colégio bastante distante, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Uruguay, no bairro Moinho dos Ventos, e aguardava vaga para o Francisco na Escola Jardim de Praça Meu Amiguinho, da rede municipal (escolas excelentes), que foi autorizada posteriormente.
Daí em diante foi o início de uma nova jornada pelo transplante, que durou 09 meses e 16 dias, até o chamado. Mas ninguém pensou que seria fácil, pois nestes cinco anos de tratamento, tudo foi muito desafiador, mas mesmo com minhas crises de ansiedade, medo e insegurança, seguimos firmes rumo ao propósito maior, graças especialmente a Iara, mamãe, as crianças, papai, minhas irmãs e diversos familiares e amigos, que sempre enviaram palavras de ânimo, orações e boas energias, mesmo a distância.
O que aconteceu depois, falaremos em uma outra oportunidade.
ANSELMO PEREIRA DE LIMA