sábado, 23 de junho de 2012

Marrequinho: A Migração de Intérpretes Goianos (Década de 60) - Capítulo X

Quando os representantes do gênero sertanejo, de São Paulo, estavam ficando sem recursos para criarem coisas novas e as gravadoras exigindo sucessos na praça aconteceu o que foi chamado de: Migração de Intérpretes goianos. É que, para sair dos estilos até então explorados pelos paulistas (nem todos eram paulistas) se fazia necessário, o lançamento de duplas e trios com intérpretes que tivessem potencial e interpretações diferentes. Diferentes e convincentes. A música sertaneja pedia socorro, apesar de ser muito bem aceita, com vendagem satisfatória, precisava atingir outras regiões do Brasil, além de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Felizmente, os paulistas tinham a receita, e nós, os goianos, tínhamos o remédio. Eles tinham a ideia e nós oferecemos os meios dela ser colocada em prática. Fornecemos o elemento essencial para se fazer a tal inovação que nossa música requeria (Os diretores de gravadoras e os produtores, também). E, tudo começou assim:
O Marinheiro, que havia se separado do Brasão e do Vantuil, resolveu ir tentar a sorte, lá na capital paulista. Lá chegando, foi conhecer o ’’ponto’’ onde quase todos os violeiros profissionais de São Paulo, se encontravam. O tradicional Café Caboclo, no largo do Paissandu, na Avenida São João, uma esquina abaixo do cruzamento com a Av. Ipiranga. Ali o Marinheiro, pessoa muito humilde, mas, convicto de que haveria para ele um ”lugar ao sol “ na carreira que pretendia seguir, conheceu o Caçula. Violeiro experiente, já havia feito gravações com outros parceiros, mas, no momento estava ‘’desocupado’’. A conversa foi curta: ’’Vamos cantar, sem compromisso, umas duas modas? Convidou o Caçula. Cantaram, e ficaram satisfeitos com o resultado da cantiga. Dupla formada. Experiência do paulista com o potencial interpretativo do goiano. Foram para o disco, bateu e valeu.
As gravações de Caçula e Marinheiro tiveram vendagem garantida até o final de suas carreiras, com a morte do Marinheiro.
Outro cantador, tarimbado, e com muito prestígio no meio artístico de São Paulo, o Tibagi, também procurava um parceiro, que tivesse uma boa primeira voz, e estivesse sem compromisso de dupla. Por intermédio de violeiros goianos, que foram a São Paulo com o intuito de fazer gravação, ficou sabendo que em Goiânia, tinha alguém, que poderia preencher os requisitos exigidos por ele. Era o Miltinho, que alimentava o desejo de ir tentar um tudo ou nada, na terra da garoa. E, a convite do Tibagi, seguiu viagem para lá. Ao fazer testes do que a dupla poderia render descobriram que cantavam de uma forma diferente. O Miltinho tinha facilidade de fazer falsetes, recurso vocal que ainda era pouco conhecido do público da música sertaneja. Choveu convites para gravação. Gravaram. E, com eles, começou uma nova era para a música sertaneja, a música verdadeiramente brasileira (na minha concepção).
Goiás começou a ser olhado com admiração e respeito, por todos os que acompanhavam a caminhada de evolução, do gênero musical que até então fora chamado de caipira. E a coisa não parou por aí, não. Essa aliança formada pela experiência paulista com a capacidade interpretativa goiana, surpreendeu e conquistou o Brasil inteiro. E a migração continuou.
Havia em Anápolis (GO), uma dupla chamada “Duduca e Saulino”. A dupla foi desfeita. Dada às dificuldades que enfrentavam, parceiros se separavam com muita facilidade. Duduca marchou para São Paulo buscando novos horizontes. Conheceu o Dalvan. Gravaram. Sucesso, Sucesso, Sucesso
Chegam a São Paulo (levando na bagagem, categoria interpretativa que logo conquistou espaço), "Os Dois Goianos", dupla formada pelos irmãos "Durval e Davi", de Goianésia-Go. Mostraram para o Brasil, a maneira goiana de interpretar música sertaneja.
Os chamados de caipira iam abrindo caminho, e os admiradores da ‘’viola’’ aumentando de maneira surpreendente. As décadas de 60 e de 70 foram décadas de ótimas realizações, tanto para os artistas como para as gravadoras, que viveram uma próspera era.
Aí foi a vez do Jotinha, (da dupla Jota e Jotinha), de Buriti Alegre (Go). Conheceu o polêmico Léo Canhoto, que na época, empresava a dupla Vieira e Vieirinha, e estavam fazendo apresentações em Goiás. Léo, compositor famoso, tinha a pretensão de formar uma dupla, mas, ainda não havia encontrado o parceiro certo. Queria formar uma dupla que fosse diferente, interessante, inovadora. Fez proposta ao menino de Buriti Alegre GO. E, mais uma vez, a visão comercial e artística do paulista, aliada a versatilidade e segurança da cantiga do Jotinha, levou um paulista e um goiano para um patamar muito alto, da música brasileira. Surgiu a dupla: Léo Canhoto e Robertinho.
E, tem mais "goiano", no pedaço. Amarai, de Jataí (Go) foi convidado pelo Belmonte, que havia (em SP) desfeito sua dupla com o Belmiro. E, surgiu uma das duplas sertanejas mais perfeitas que o Brasil já conheceu: "Belmonte e Amarai".
Outro goiano "sacode" o Brasil, com seu jeito simples e contagiante de cantar o amor. Fenômeno, na época (e até hoje), em vendagem de discos. O cantor "Amado Batista".
Fortalecendo essa corrente de genuínos cantadores de Goiás, surge o Trio "Os Filhos de Goiás" (Maurico, Mauruzinho e Voninho).
De Itumbiara (GO), "Praião e Prainha" dá a sua colaboração para o prosseguimento da música cabocla.
E, Goiás, fez ainda mais, pela música brasileira. O Bazar Paulistinha, ‘’despachou’’ para a capital paulista, o inimitável e versátil cantor Lindomar, que, mais tarde acrescentaria o Castilho e se tornaria "Lindomar Castilho" (O Cantor das Américas), natural de Santa Helena (GO).
Em seguida, foi a vez da Ely Camargo, que encantou o Brasil com "Canções da minha Terra".
O Lindomar e a Ely Camargo são ‘’crias’’ do Waldomiro Bariani, o ‘’seu’’ Waldo, como nossa "curriola" o chamava.
Para sacramentar minha afirmativa de que Goiás desempenhou um papel muito importante na valorização no avanço e na evolução da música de origem caipira quero citar a dupla formada pelos irmãos (Goianos, claro) "Christian e Ralf" que dispensa qualquer comentário sobre sua importância no cenário artístico nacional, pela sua versatilidade e seu invejável potencial interpretativo, o que muito contribuiu para a continuidade da caminhada evolutiva da música sertaneja.

Deixo aqui uma pergunta:

“GOIÁS TEVE OU NÃO TEVE PAPEL DE DESTAQUE NA PERMANÊNCIA, NA CONTINUIDADE E NA EVOLUÇÃO DA MÚSICA SERTANEJA, NO BRASIL”?


Leia os Capítulos anteriores do livro: “MARREQUINHO – O MENINO DE CAMPO FORMOSO” – Memórias de um artista sertanejo.
 


Contato com Marequinho:








* Décimo capítulo do livro "Marrequinho - O Menino de Campo Formoso", de Francisco Ricardo de Souza. Imagem: Acervo Pessoal. Publicação autorizada pelo autor. Todos os direitos reservados.

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