segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Dorvalino Fernandes de Castro, o Primeiro Professor Público da Região de Firmeza


No período do povoamento do sertão de Campo Formoso*, freguesia de Santa Cruz de Goiás, grande parte da população não tinha acesso à formação escolar. Nas fazendas, alguns integrantes das famílias mais abastadas, que tinham alguma formação básica, realizavam o letramento das crianças da família e da comunidade. Algumas dessas famílias influentes ainda enviavam os filhos para estudar nas classes de Santa Cruz e Bomfim (Silvânia), por sinal, de acesso muito restrito. 
Campo Formoso (Orizona) só veio a ter um professor público em 1891, quando se tornou distrito de paz e policial. O primeiro ‘mestre’ foi o professor Luiz da Annunciação de Oliveira Ferraz**, oriundo de Santa Luzia (Luziânia). Mesmo assim, inicialmente havia classe apenas para homens e o acesso ainda era muito pequeno. Apenas a partir do final da década de 1920 começaram a surgir as escolas rurais. Podemos destacar como exemplo entre as primeiras, a da Cachoeira, Ubatan e Borboleta.
Neste texto trataremos do primeiro professor público da região de Firmeza, Dorvalino Fernandes de Castro, que foi inclusive homenageado sendo dado pelo Município de Orizona o seu nome ao Colégio Municipal daquele povoamento. 
Dorvalino (ou Durvalino) nasceu no distrito de Campo Formoso, município de Santa Cruz de Goiás em 16 de julho de 1899. Era filho de Limírio Fernandes de Castro (1864-1925) e Maria Cândida das Dores. Seu pai, Limírio, era o filho mais jovem de uma prole de 12 de Joaquim Fernandes de Castro e Maria Rosa do Carmo, pioneiros no povoamento da região da Firmeza, chegando ali por volta de 1849. O consórcio Joaquim e Rosa também é a base principal do tronco Fernandes de Castro em Orizona – Goiás. 
Até por volta de 1925, quando ocorreu a morte de Limírio, a família de Dorvalino vivia na região dos Coqueiros e depois se mudou para a Firmeza. Um documento que não especifica a data trata do negócio de um terreno (permuta) na região dos Coqueiros (nove alqueires de terra de campo e seis alqueires de cultura em capim formado) por uma na Firmeza (49,5 alqueires de campo, um alqueire a mais, 09 rolos de arame, casa de morar, casa nova, rego d’água e monjolo). 
Dorvalino recebeu educação básica, o que lhe garantia algum status social em uma sociedade rural quase inteiramente analfabeta na época. Segundo o seu filho Altamiro Fernandes de Castro, 77 anos de idade, Dorvalino escrevia poemas e compunha músicas de catira. 
Serviu o exército em 1921, no 6º Batalhão de Caçadores de Ipameri, Goiás. Conforme a sua carteira de reservista, foi incorporado em 01/03/1921, com a matrícula de nº 93, na 2ª Divisão, 4ª Brigada de Infantaria, e foi dispensado em 01/11/1921. Ainda de acordo com o documento, tinha 1,66 metros de altura, cor morena e cabelos pretos. 
Tudo indica que ao retornar do serviço militar, trabalhava como lavrador e professor particular de crianças e adolescentes na Firmeza. A atividade de educador foi iniciada na fazenda do Sr. Joaquim Fernandes de Castro (Quinzim Fernandes). 
A Escola Rural de Firmeza, mantida pelo Município de Campo Formoso (Orizona) começou a funcionar em 1939, durante a gestão do prefeito José da Costa Pereira (Zequinha) ainda na propriedade do Sr. Quinzim Fernandes. Em 1º de março de 1943, Dorvalino começou a dar aulas em sua residência. 
O professor Dorvalino administrava uma classe mista e multisseriada e procedia a alfabetização e o conteúdo trabalhado nas séries iniciais, conforme orientação da Inspetoria de Ensino, na época, de responsabilidade do próprio prefeito, que acumulava a função [leia no final correspondência do prefeito orientando sobre o conteúdo a ser aplicado em sala de aula]. 
Deu aulas para centenas de crianças, inclusive para seus filhos. Manteve turmas até o início da década de 1960, quando já funcionava também na região a Escola Normal de Firmeza, que se tornou a única mantida pelo poder público municipal, implantada pelo prefeito Rodolpho Fernandes de Castro. 
Casou-se com Maria de Castro, nascida na região de Firmeza em 25 de dezembro de 1916 e falecida em 10 de abril de 2010, com 93 anos de idade. A esposa era filha natural de Maria da Abadia. O casal Maria e Dorvalino teve seis filhos: Valdir e Valdina (falecidos quando crianças), Carolina (atualmente com 81 anos de idade), Altamiro (nascido em 25 de maio de 1941), Maria de Lourdes de Castro e Valdina de Castro. 
Dorvalino faleceu em 29 de dezembro de 1973, às 11 horas da manhã, em sua residência (conforme certidão de óbito – termo número 38, folha 130v a 131 do livro C-1 do 1º Cartório de Registro Civil de Orizona) por problemas pulmonares. 
Por ter sido pioneiro na educação na região e pelos relevantes serviços prestados, foi homenageado pelo Município de Orizona, dando o seu nome ao Colégio Municipal inaugurado em 1988 no povoado de Firmeza, durante a gestão do prefeito Idalício Leandro Teixeira. 

ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com

(Correspondência do Prefeito Zequinha Costa ao Professor Dorvalino) 


PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO FORMOSO, 24 DE JULHO DE 1939. 


Ilmo e Exmo Sr. Professor da Escola Rural de Firmeza 

Ao mesmo tempo que agradeço a V. Sa. todo esforço que se empregue por amor da instrução e, por conseguinte, de nosso município, de nosso Estado, do Brasil, cuja sorte boa depende do proceder e da capacidade de trabalho eficiente de seus filhos, sirvo-me do ensejo para lembrar ao Senhor Professor o seguinte: 
Uma vez por semana falar aos alunos sobre o de que se precisa para viver de acordo com a civilização. 
1º) Combate ao álcool, 
2º) Combate à preguiça, 
3º) Exposição sistemática sobre a necessidade de se exterminar o percevejo dos lares. 
Quanto ao álcool – Que é que se bebe tanto no interior dessa terra? A cachaça. Cumpre ao Sr. professor mostrar ao aluno que a pessoa, que bebe cachaça, ainda que pouco, perde muito a sua saúde e, principalmente, ao conceito público. 
(Desenvolver o assunto) 
Preguiça – Dizer que o preguiçoso é mal visto, pois o trabalho é a lei da vida. Dar o exemplo do joão-de-barro, da formiga, etc. 
Percevejo, pulga nos lares – Com muita diplomacia (afim de que os pais não o entenderão outra coisa) apresentar-se males que possa causar o percevejo: chupa o sangue, transmite certas moléstias e indício de ... descuido, fácil de se evitar. 
Eis aqui um pouco do muito que ao menino se deve ensinar. Devagar, com o auxilio de Deus, estou certo de algo se conseguir. 

Saudações atenciosas, 


JOSÉ DA COSTA PEREIRA 
Prefeito Municipal 

* Perfil escrito em 18 de julho de 2018, a partir de pesquisa documental e entrevista com o filho de Dorvalino, Altamiro Fernandes de Castro - Neguinho da Firmeza. Contestações de informações do texto podem ser enviadas para o e-mail acima.

** Trataremos em um texto futuro sobre a contribuição deixada por Luiz Ferraz em Campo Formoso.

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