domingo, 18 de novembro de 2018

Leo Lynce: "Em Campo Formoso é assim..."

Leo Lynce, pseudônimo de Cyllenêo Marques de Araújo Valle, foi um poeta, advogado, jornalista e político goiano, nascido em Pouso Alto (Piracanjuba) em 29 de junho de 1884. Filho de João Antônio de Araújo Valle e de Eponina Marques de Araújo Valle.
Em 1908, entrou na vida política, elegendo-se deputado estadual. Nas décadas de 1920 morou e foi professor em Urutai (foi diretor da Fazenda Modelo, hoje IF Goiano - Campus Urutai), militou como advogado em Campo Formoso (Orizona), Bonfim (Silvânia) e Vila Bôa (Goiás). Foi nomeado, em 1927, Juiz de Direito de Santa Cruz de Goiás. Em 1930, tornou-se Juiz de Direito de Pires do Rio. Em 1938 atuou em Bella Vista (Bela Vista de Goiás) também como Juiz de Direito.
Considerado um dos precursores do Modernismo das letras goianas, através do único livro de poemas "Ontem", publicado em 1928. Em seu livro de estreia, mostrou um ecletismo característico da literatura anterior à Semana de Arte Moderna de 1922, misto de Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo com tendências ao Modernismo. Esta obra é considerada pela crítica como de transição ao Modernismo. Foi consagrado como o “Príncipe dos Poetas” goianos. Foi fundador da Academia Goiana de Letras, ocupando a Cadeira nº 11. Morreu em Goiânia no dia 7 de julho de 1954.
Deixando de lado a sua pomposa biografia e expressiva trajetória literária, ressaltamos outro aspecto de sua existência. Cyllenêo era irmão de Idomenêo Marques de Araújo Valle e meio irmão (por parte de mãe) de Egerinêo Teixeira, ex-prefeitos de Campo Formoso (Orizona). No município, viveu e participou ativamente da efervescente vida política e intelectual dos anos de 1920 e 1930. Contribuía com o jornal "A Roça", inaugurado em 1923 pelo jovem e talentoso Egerinêo.
Abaixo, selecionamos letras introdutórias da edição nº 03 do jornal A Roça, de 08 de janeiro de 1924, de autoria de Leo Lynce. O texto ressalta o recém criado veículo de comunicação (o primeiro jornal do município) e o emergente município, que naquela época apresentava sinais de grande prosperidade por conta da chegada em 1923 da Estrada de Ferro Goyaz:

EM CAMPO FORMOSO É ASSIM*...

Expressão genuína do meio, "A Roça" é bem o órgão de pensamento de uma cidade jovem e culta.
Surge esta folha como um brado de alerta e uma clanglorada de esperanças dos moços que, à porta dos trilhos da nossa via férrea, montam guardar ao progresso.
"A Roça...
A originalidade do título, da divisa e da feição, a firmeza das penas que lhe esculpem as colunas e, sobretudo, o alto patriotismo que a inspira prendem logo a atenção ao leitor, predispondo-o à simpatia.
No novo jornal, tudo é novo, como novos são seus redatores e nova a cidade em que vem de aparecer.
Campo Formoso é, de facto, entre as cidades goianas, uma de poucas exceções à regra.
É uma cidade que caminha, mas que caminha com inteligência, com firmeza, sem uma dissonância na harmonia dos seus elementos de ordem e de trabalho.
Jamais houve ali uma luta politica.
Porque a politica, ou para dizer como o velho Rui, a politicalha, tão nociva às localidades do interior, está fora das cogitações dos campo-formosenses.
Morto José da Costa**, o saudoso e querido chefe daquele povo, ninguém disputou o penacho, que andou de mão em mão como um presente de grego, até que, um dia, premidos pela necessidade de se entenderem com os governantes, os homens mais graduados do lugar se reuniram e obrigaram Abilon Borges, moço inteligente e estimadíssimo, a aceitar as funções, tão cobiçadas alhures, de leader da política local.
E o Abilon vai se conduzindo admiravelmente nesse posto.
E em Campo Formoso é assim...
Talvez porque lá ninguém adoeça, o médico da terra, o ilustrado Dr. Raphael Leme Franco, não crê na medicina, mas adora a música.
A música, em Campo Formoso, é uma obsessão.
Com um serviço de automóveis a que o sr. Cel. Pio José da Silva imprime a mais inglesa das pontualidades, com os trabalhos já iniciados para a instalação da usina de força e luz e em véspera de ser ligada, por linha telefônica com a Estação mais próxima da Estrada de Ferro Goyaz, a cidade d' "A Roça" será, em breve, a cidade-jardim.

Leo Lynce


ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)

* Fonte: Jornal A Roça, Campo Formoso - Atual Orizona/GO - Ano I, N. 3, 8 de janeiro de 1924.
** O Coronel José da Costa Pereira Sobrinho, pai do prefeito e senador José da Costa Pereira, natural de Patrocínio-MG, morreu em Campo Formoso-GO no dia 08 de novembro de 1913.

Um comentário:

  1. Uau. Que texto expressivo. Um ilustre goiano elogiando nossa terra. Com seu jeito excêntrico, fez muita coisa para a literatura goiana, quiçá brasileira.

    ResponderExcluir

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não serão publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....