domingo, 5 de fevereiro de 2023

No passado, poucos podiam voar, mas as experiências de voo eram muito atraentes

O jornalista Geraldo de Araújo Vale, natural de Orizona, filho de Idomeneu Marques de Araújo e Mariana Rosa de Araújo, nasceu no dia 23 de março de 1914 e faleceu no dia 30 de abril de 1979 apresenta essa ‘crítica’ (imagem abaixo) sobre um voo na Cruzeiro do Sul (Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul) em 1957, entre Goiânia e São Paulo. A crônica aparece na página do Jornal de Notícias de Goiânia. Viajou em uma aeronave Douglas DC-3, um avião bimotor a pistão, de asas baixas e propulsão à hélices, desenvolvido e fabricado nos Estados Unidos pela Douglas Aircraft Company, de 1936 a 1950. Era o principal modelo usado pela Cruzeiro do Sul.
O outro caso é uma viagem da família orizonense composta pelo juiz Alcino Brettas e seus pais Euclydes Brettas (político, fazendeiro e farmacêutico) e Isolina de Castro Brettas (fazendeira e dona de casa). A família viajou entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro pela Panair do Brasil e foi destaque nas colunas sociais do Jornal do Brasil (RJ) do dia 07/01/1939. Voar de Panair era um luxo. Viajaram naquela ocasião em um Lockheed modelo L-10 Electra, um bimotor, avião monoplano totalmente metálico desenvolvido pela Lockheed Aircraft Corporation em 1930, para competir com o Boeing 247 e Douglas DC-2. O avião ganhou fama considerável, uma vez que foi pilotado por Amelia Earhart em sua malfadada expedição ao redor do mundo em 1937.
Recorte do Jornal de Notícias (1957).
A Cruzeiro do Sul, inicialmente chamada Syndicato Condor, foi constituída em 1º de dezembro de 1927. Foi controlada pela Varig na década de 1970, tornando-se subsidiária da companhia gaúcha e deixando de existir em 1º de janeiro de 1993, após ser totalmente adquirida pela mesma.
Já a Panair do Brasil S.A. foi fundada no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1929 por Ralph Ambrose O'Neill. Foi a principal empresa aérea brasileira entre 1930 e 1950, e perdeu mercado — principalmente o doméstico — na década de 1950, com o crescimento da Varig e da Real. A partir de 1942, as ações da empresa começaram a ser transferidas para investidores brasileiros, tornando-se ela majoritariamente nacional em 1948. Em 1964, as empresas da dupla de acionistas da Panair passaram a sofrer intervenções do governo militar recém-instaurado.
A Panair teve suas operações aéreas abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, devido a um despacho do governo militar, que suspendeu suas linhas, por influência da Varig, que queria assumir o mercado, principalmente exterior, ocupado pela Panair. A opção pela suspensão, em vez da cassação, teria sido um mero artifício técnico encontrado pela ditadura. Assim, as operações poderiam ser, na prática, paralisadas de imediato, sem o decurso dos prazos legais de uma cassação. As autorizações de voo só foram oficialmente revogadas no Diário Oficial da União em 27 de agosto de 2009.
Nessas décadas remotas, viajar de avião era uma experiência quase que exclusiva de famílias muito abastadas e de quem estava a trabalho, pois o número de linhas e infraestrutura era muito reduzido e o custo das passagens era para poucos, um pouco também pela experiência do serviço de bordo, equivalente ao dos mais luxuosos hotéis. Em Goiás, a Cruzeiro do Sul tinha voos inclusive para o interior do Estado.
Serviço de bordo na KLM. Foto: Divulgação.

Os voos internacionais da Varig nas últimas décadas do século XX eram um exagero em termo de sofisticação e até de práticas inusitadas. Além das lagostas, caviares, whisky, Campari, outras bebidas e pratos sofisticados figuravam nos serviços. A KLM da Holanda, na década de 1960, servia uma carne assada que na prática era um churrasco do mais alto padrão.
Jumbo da Varig. Foto: Normando Carvalho Jr.

Segundo Gianfranco Beting (Panda), a Varig era uma empresa glamorosa porque os tempos eram assim e a concorrência entre as companhias exigia essas posturas. O próprio disse em uma entrevista ao canal Aviões e Música que em uma viagem do Rio de Janeiro a Paris, foi servido à primeira classe pelos comissários da Varig, um rodízio de churrasco, típico da tradição gaúcha. Era fevereiro de 1987.
Uma curiosidade que não sabemos até quando é verdadeira foi me contada muito em minha infância: que a companhia servia cachaças de alambiques de Orizona na década de 1980 e 1990 para os clientes. Naquela época, algumas marcas da bebida orizonense foram premiadas entre as melhores do país.
Um DC-3 voando pela Cruzeiro do Sul.

Hoje, mais gente pode viajar de avião, mas os custos são altos (mas muito menores) e a experiência de voo não é lá das mais empolgantes. Voar numa das três companhias (Gol, Azul e Latam) não é muito atrativo do ponto de vista da viagem. A distância entre serviços aos clientes de companhias aéreas atuais e antigas está relacionado ao perfil dos clientes. E não estou alegando que atualmente as viagens estão repletas de gente da classe C e D, por exemplo. Muito além do padrão econômico dos clientes, estão os hábitos e costumes criados nas últimas décadas. Parece que os equipamentos eletrônicos e redes sociais regrediram muito a sociedade, para um nível totalmente diferente daquele.
Família Tolentino Brettas. Foto: Acervo Familiar.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA.

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