sábado, 17 de dezembro de 2022

Memórias de meu avô Jesus Policena Rosa

Neste 17 de dezembro de 2022, pela primeira vez em 87 anos não será possível comemorar o aniversário de meu avô materno Jesus Policena Rosa na sua presença, uma vez que nos deixou em 1º de abril último. Até 2008, convivi bem pouco, pois morava mais distante. Todos morávamos na região da Firmeza, mas em extremos. Convivíamos mais nas programações religiosas, esportivas e de lazer da comunidade do que visitando as residências de um ou outro.
Não tenho lembranças da avó Carolina, sua esposa, que faleceu em 13 de maio de 1984, quando eu tinha apenas sete meses de idade. Se casaram em 1958 e tiveram nove filhos, todos ainda vivos: Maria da Penha Pereira (Rosa) de Sousa, Rui Policena Rosa, Rubens Policena Rosa, Neusa Pereira Rosa, Neide Pereira Rosa da Cunha, Ramos Policena Rosa, Roberto Policena Rosa, Ronaldo Policena Rosa e Nadir Pereira Rosa. Eles criaram os filhos na região de Firmeza de Baixo, a margem esquerda do ribeirão Cachoeira, em localidade entre os povoados de Firmeza e Cachoeira.
A propriedade foi adquirida como herança do pai de Jesus, Ramiro Policena Rosa, falecido em 1956. Vô Jesus também foi comprando as partes dos irmãos e ao final, a terra se aproximava de 12 alqueires. Quando casou com Carolina, construiu um pequeno barraco para morarem. Como a família aumentou muito, foram adaptados quartos junto ao paiol. No final da década de 1970, construiu uma casa de alvenaria que podia abrigar toda a família. A propriedade foi dividida entre os filhos em 2008, quando Jesus se mudou para a cidade de Orizona.
Uma tarefa econômica que teve foi da produção de fumo. O tabaco cultivado e preparado, segundo minha mãe Neusa, era transformado em fumos de rolo e comercializado na cidade. Minha mãe e a tia Neide ajudavam na tarefa e como pagamento, vendiam trouxinhas menores com as sobras. Vovô Jesus buscava a sobrevivência nas mais diversas atividades. A propriedade, que era pequena, tinha o solo pouco fértil e só era cultivado aquilo que exigia para a autossubsistência. Mas era uma família de pessoas muito dedicadas ao trabalho. Em minha infância, lembro que geralmente saia para serrar madeira com a serra manual, com alguns dos filhos.
Uma grande atração que fica naquela área de terra é a cachoeira do Augusto, tendo seu ponto predileto o chamado “poção”, ótimo para um banho. Só recentemente que soube que a cachoeira tinha esse nome, por estar na propriedade de Augusto Policeno Rosa, avô e padrinho de Jesus. Augusto era morador dali desde o início da década de 1920.
Desde a infância, Jesus teve sérios problemas de saúde e, apesar de muitas vezes desenganado, foi vencendo as doenças a ponto a ter uma vida relativamente longa. Entre outras, teve chagas, úlcera no estômago e enfisema pulmonar, possivelmente provocado pelo uso do cigarro ou mesmo pelo manuseio do tabaco durante o trabalho. Esse último foi quem provocou a sua morte, mesmo tendo deixado de fumar 14 anos antes.
Para quem é criança e adolescente, os momentos na casa do avô sempre são bons. Além do banho de cachoeira, a sede tinha um quintal enorme. Em uma ocasião, tive um corte profundo na perna esquerda. Era bem pequeno e a cicatriz cresceu comigo. Gostava também de sua comida e de ler os livros que tinha, o mais interessante, uma linda Bíblia ilustrada em dois volumes. Indo em sua propriedade, na margem esquerda do ribeirão Cachoeira, geralmente encontrávamos os seus filhos mais jovens, principalmente a tia Nadir. Os casados viviam em outras localidades.
Vovô dedicou a muitos prazeres: caçar perdiz, jogar sinuca (ganhou o apelido de ‘Jesus do Prego’), baralho, dominó e pegar queda de braço, uma de suas grandes habilidades. Também foi um exímio jogador de futebol, mantendo a prática esportiva até mais de 60 anos de idade. Foi dirigente de comunidade das CEBs, na Firmeza de Baixo. Depois que mudou para a cidade de Orizona, em 2008, se integrou nos grupos de melhor idade e era um dançarino de destaque. Foi nessa época que também lhe pegou o apelido de ‘Jesus do Paraguai’.
No período entre 1995 e 1998, encontrava com vovô com muita frequência. Quando chegava no final da tarde para as aulas no Colégio Dorvalino Fernandes de Castro, ia direto em um bar do povoado e deparava com o mesmo chegando ou já jogando sinuca. Ali jogada (dando prego), fumava, bebia uma bebida forte (mas pouca), um petisco, conversava e ia para casa, onde vivia só. Os adversários da sinuca variavam, mas um que ficou em minha memória foi o Edilson do tio Joaquim Antônio.
Uma história conhecida entre os familiares foi durante a sua adolescência em Ceres. Ao lado dos irmãos José e Manoel e de mais nove amigos, era temido e faziam algumas extravagâncias impensáveis. A maior era a de atravessar o rio das Almas por dezenas de vezes a nado, até não conseguirem mais. Para se ter uma ideia, o rio é equivalente ao Corumbá. Não seria de duvidar, já que vovô tinha a prática de jogar alguns de seus filhos pequenos na cachoeira do Augusto para que aprendessem a nadar mais rapidamente.
Parece que tinha alguns valores quase inegociáveis. Um destes é que depois de viúvo, não quis casar, apesar de terem surgido algumas oportunidades. Foram quase 38 anos de viuvez, que preferiu viver só. Nos últimos anos de vida, não podia estar mais só e teve o apoio dos familiares ao seu lado, até o último instante, algo valioso e que vovô Jesus pode perceber. A gente não pode viver a morte dos entes queridos, mas podemos estar ao lado em vida, na velhice.

Linha do Tempo:

1935 – Em 17 de dezembro nasce em Campo Formoso (Orizona) Jesus Policena Rosa, filho de Ramiro Policena Rosa e Mariana Pereira dos Santos. Ele nasceu em casa, na residência da família.

1942 – Nasce em 04 de janeiro em Campo Formoso, a avó materna Carolina Honorata de Jesus, filha de Josino Pereira Cardoso e Maria Honorata de Jesus. Era a filha mais jovem do casal. Nessa época, viviam na antiga sede do pai de Maria Honorata, José Gregório Pereira.

1942 – Em 11 de julho, falece o sogro Josino Pereira Cardoso, vítima de um infarto enquanto carreava milho no carro de bois.

1942 – Gustavo Pereira de Castro, primo de Jesus Policena Rosa, funda com familiares e amigos o time de futebol Firmeza Esporte Clube. O time foi integrado nas primeiras décadas principalmente pelas famílias Policena Rosa, Pereira de Castro, Gregório Pereira, Caixeta, Alarcão e Sousa. Jesus jogou por muito tempo pela equipe por outras da região.

1944 – Ramiro Policena Rosa muda com a família para Anápolis e mais ou menos dois anos depois, para Ceres, então Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG). Na CANG, sustentava a família produzindo hortaliças e vendendo na cidade.

1950 – Por volta dessa época, sua mãe Mariana Pereira dos Santos falece em Ceres-GO.

1952 – Em junho, Ramiro Policena Rosa retorna com a família para a antiga propriedade rural, em Orizona. Um dos motivos do retorno foi a vida dura que a família enfrentava na CANG. Jesus tinha nessa época, 16 anos.

1953 - Faleceu em Orizona, no dia 10 de julho, o trisavô Augusto Policeno Rosa, ocasionado por um quadro grave de Hepatite Crônica (nefrite), conforme laudo do médico Joel de Andrade.

1958 – Jesus Policena Rosa se casa com Carolina Honorata (de Jesus) Rosa em 20 de março, durante o período quaresmal, na capela da Cachoeira. Havia uma crença na época que casamentos na Quaresma davam azar. Eles tiveram nove filhos.

1956 – Morreu em 02 de maio o seu pai Ramiro Policena Rosa.

1969 – Em 27 de janeiro falece a sogra Maria Honorata de Jesus. Nessa época, morava acima da antiga sede do patriarca Joaquim Gregório Pereira, que na época morava seu irmão Joaquim José Gregório. Fica na margem direita do córrego da Lagoa.

1984 – Em 13 de maio, Dia das Mães, morre aos 42 anos, a esposa Carolina Honorata. Ela morreu de problemas cardíacos enquanto rezava numa igreja em São Paulo – SP. Relatos afirmam que na ocasião estava muito emocionada. Seu corpo foi transportado de avião para Anápolis-GO, antes de ser velada e sepultada em Orizona.

2008 – Se muda da região da Firmeza em abril e vai morar no bairro Cinelândia. Por causa de sua condição de saúde e a necessidade de tratamento, deixa de fumar. Faz a partilha da terra da propriedade entre os 09 filhos.

2013 – Ajudou na organização da Festa da Família Policena Rosa, realizada no dia 13 de julho daquele ano, na AABB de Orizona.

2015 – Teve uma grave crise por conta de problemas respiratórios, deu entrada em estado grave no ambulatório médico de Orizona, sob cuidados do médico João Marcos Ribeiro. Foi posteriormente transferido para uma UTI em Senador Canedo. Depois da alta, passou a usar oxigênio medicinal e a fazer acompanhamento no CAIS Chácara do Governador e Hospital das Clínicas/UFG.

2022 – Falece em Orizona no dia 1º de abril, no Hospital e Maternidade São Pio X, de agravamento dos problemas pulmonares. Morreu por volta de 13:30 horas, foi velado na casa de velório da Funerária Liv Pax Orizona e foi sepultado no cemitério municipal no início da noite. Deixou 09 filhos, 25 netos e 27 bisnetos, genros e noras. Nessa trajetória não pode estar até o fim ao lado da esposa e do genro Otávio Joaquim de Sousa, que faleceu antes vítima de um acidente.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA.

0 comentários:

Postar um comentário

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não serão publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....