quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Preocupada com ameaças, Igreja resolve transferir Pe. Geraldo

O diretor da Casa da Juventude de Goiânia (Caju), padre Geraldo Labarrère, será transferido de cidade devido às ameaças de morte que tem recebido. O padre, que faz trabalhos com crianças e adolescentes de baixa renda, sofre com ameaças há mais de 10 anos, que foram intensificadas depois que a Operação Sexto Mandamento foi deflagrada em 15 de fevereiro deste ano, pela Polícia Federal.
A operação investiga um suposto grupo de extermínio formado por policiais militares. A transferência foi uma decisão do superior dos Jesuítas, padre Smyda, para a proteção de padre Geraldo. A igreja tomou a decisão de transferir o diretor, terça-feira (27), após 21 anos de trabalho no Estado. A data da transferência e o local não foram revelados por motivos de segurança.
O padre conta que duas vezes foi ameaçado diretamente, sendo que a última delas foi no dia 15 de agosto, logo após um discurso que fez na Comissão da Verdade, sobre crimes que não são investigados. "Ligaram aqui na Caju perguntando qual a minha altura, porque estariam preparando o meu caixão", contou. Outras ameaças vieram por informações de terceiros. Uma delas foi encaminhada ao arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz, que alertou o padre, para sua segurança. Pelos relatos do padre Geraldo, a informação era de que encenariam um acidente ou um assalto para encobrir a sua morte.
Segundo padre Geraldo, após a Operação Sexto Mandamento, houveram tentativas de arrombamento na Caju, e um policial chegou a entrar na casa com atitude suspeita. "Ele pediu para usar o banheiro e, quando saiu, estava com uma sacola na mão que não tinha quando entrou. Depois disse que havia esquecido a chave no banheiro e queria entrar novamente. Não deixamos que ele voltasse. Foi uma situação estranha", disse. Além dessas, o padre afirma que o sistema de monitoramento de câmeras instalado na Caju, depois das ameaças, registrou, em um dia, 26 viaturas da polícia rondando o local.
O diretor da Caju, mesmo depois das ameaças, defende que a Polícia Federal deve continuar as investigações do Sexto Mandamento. O padre participou de uma audiência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, na segunda-feira (26), em Brasília, para discutir o financiamento das investigações do Sexto Mandamento pela Polícia Federal. Segundo ele, a averiguação pela PF seria um dos elementos que ajudariam e dariam maior liberdade de investigação. "Polícia não deve investigar polícia. São parceiros do dia-a-dia. Como eu vou sair com você de manhã e de noite te entregar? É uma situação complicada. Então, deve haver um levantamento de recursos para que essa apuração seja feita pela Polícia Federal", explicou.
Em entrevista nesta terça-feira ao jornalista Altair Tavares, da Rádio 730, Pe. Geraldo disse que uma comissão chegou a ter uma audiência com o Governador Marconi Perillo a fim de que fossem tomadas algumas medidas para a segurança dele e de outros religiosos, mas o gestor não demonstrou interesse pela questão.
O padre, que realiza trabalhos voltados à comunidade de baixa renda e coordena comissão que denuncia crimes praticados por policiais, avalia que a sua atuação foi positiva. Quando assumiu a Caju, em 1990, dos 32 cursos oferecidos, 27 haviam sido cancelados. Sob sua gestão, a casa retomou os cursos, e hoje os jovens chegam a fazer intercâmbio fora do País por programas da Caju. "Nós vivemos em uma sociedade elitizada e preconceituosa, mas no nosso trabalho nos metemos nessa sociedade para ajudar. E conseguimos ver a diferença nas crianças. Os pais nos agradecem. Então, podemos ver que nosso trabalho fluiu", disse.
Sobre a transferência, o padre afirma que sentiu por deixar a casa, mas percebeu que é a melhor decisão. "É bom ver que as pessoas pedem para que eu vá pela minha proteção. Isso mostra que se importam. E para a casa também será bom mudar de diretor agora, porque 21 anos já são quase uma ditadura", brincou padre Geraldo. No lugar dele assumirá o cargo de diretora-interina da Caju a funcionária mais antiga da casa, Carmen Lúcia Teixeira, até que o superior dos Jesuítas designe alguém para assumir permanentemente a função.
Ontem a noite, durante o lançamento da Agenda Latino-Americana Mundial 2012, produzida pela Comissão Dominicana de Justiça e Paz, com a presença dos orizonenses Antônio Baiano (vice-prefeito) e Iara Silva (Famíla Dominicana do Brasil), no Centro Cultural Cara Vídeo, lideranças da Igreja homenagearam o sacerdote e esclareceram sobre as circunstâncias da sua transferência.
Pe. Geraldo participou em 2009 de dois eventos importantes realizados em Orizona: de audiências públicas sobre o Extermínio da Juventude e sobre Segurança Pública. Geraldo foi convidado a vir a Orizona justamente por conta da sua relevante atuação em defesa dos Direitos Humanos em Goiás.


Texto com informações do Jornal Diário da Manhã/ Imagem: Câmara Municipal de Goiânia.

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