terça-feira, 9 de outubro de 2012

Marrequinho: Minha Musa Inspiradora - Cap. XXI

Diz a tradição*, que todo poeta tem uma musa inspiradora por quem nutre um grande amor, uma avassaladora paixão. Acredito que em alguns casos, essa musa seja apenas uma fantasia. Só existe no pensamento do seu idealizador, que na sua carência de afeto abriga em sua mente, a imagem da companheira ideal, virtuosa, linda, meiga, sensual, humilde, desprovida de qualquer traço de egoísmo e de arrogância. Enfim, uma mulher deusa, que qualquer homem gostaria de conhecer, de amar e de ser amado por ela. Na verdade, quando mais jovem, alimentei inumeráveis fantasias. Musas fictícias fizeram parte da minha mente em algumas etapas da minha jornada artística. Ao longo da minha vida convivi com muitas mulheres, dentre as quais por diversas vezes pensei ter vislumbrado o perfil de quem poderia ser a mulher perfeita, para se tornar a "minha" musa. Mas, elas acabavam demonstrando que tinham apenas beleza física.
Não possuíam virtude alguma, eram mulheres comuns, algumas delas eram até mesmo vulgares. Mas, o que eu considerava ser impossível, o destino me mostrou que era possível. Casualmente conheci o Anjo-mulher, a virtuosa e bela criatura que viria a se tornar real e definitivamente a minha musa inspiradora. Na época ela se recuperava de fortes abalos emocionais sofridos no âmbito familiar. Mulher maravilhosa, de extrema sensibilidade, tão meiga, tão delicada, tão pura e tão linda, que, falando de maneira figurada era parecida com uma gota de orvalho numa pétala de rosa. Surgiu de mansinho, em minha vida. Eu estava tentando me manter de pé ante os "baques" sofridos com os resultados de um complicado romance desfeito. Mesmo assim, ao conhecer aquela criaturinha tão delicada que me pareceu estar tão necessitada de compreensão e de carinho deixei de lado minhas contrariedades amorosas, e, de maneira espontânea e sem qualquer intenção que não fosse a de confortar alguém que sofria lhe ofereci meu ombro amigo para que ela se apoiasse (moralmente), enquanto ela, deixando de lado suas próprias mágoas pessoais, generosamente estendeu-me as mãos, com a única intenção de guiar-me para longe dos meus distúrbios psicológicos. Assim, descobrimos que tínhamos muitas afinidades, comungávamos os mesmos ideais e sonhávamos os mesmos sonhos. Mas, infelizmente eram somente sonhos, que nunca se tornariam reais. Porque o destino havia traçado caminhos diferentes, para nós. Na verdade, aquela mulher deusa, não foi apenas a minha musa inspiradora, admito que até hoje ela signifique muito mais do que isso, para mim. Confesso que eu a amei (ainda amo), muito. Porém, de maneira platônica, com um amor nunca totalmente declarado, a não ser através dos muitos versos que escrevi pensando nela. Ela também me amou, eu sei. Mas, da mesma forma que eu a amei. Sem contatos físicos, sem declarações e também sem alimentar qualquer esperança de que a vida permitiria que pertencêssemos um ao outro, algum dia. Ela se contentava em saber que eu a considerava a minha musa inspiradora. Eu me satisfazia, em saber que ela me considerava, o seu poeta. Nossos passos nos levaram para diferentes direções e nos fizeram caminhar por tortuosos caminhos, mesmo assim nunca houve um adeus definitivo entre nós. E nunca nos afastamos totalmente um do outro. Encontramo-nos, nos olhamos, e nos calamos. Porque existem momentos em que o silêncio tem mais força de expressão do que milhões de palavras. Temos almas gêmeas, que sente falta, uma da outra. Por isso, se procuram se encontram se comunicam se entendem e se completam. Após algum tempo ela se vai, novamente. E, eu, aguardo confiante, com a certeza de que qualquer dia ela virá procurar-me, outra vez, para amenizar a saudade provocada pelo inexplicável emaranhado de sentimentos existentes entre mim e ela. Nossos corpos, nunca se uniram, mas, nossas almas se entrelaçaram, e, nunca se separaram. Aquela criatura querida ainda é e será sempre, a minha musa inspiradora. E eu sei que ainda sou e serei sempre, o seu poeta. 

* Rosto de mulher – Bico de pena



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* Vigésimo primeiro capítulo do livro "Marrequinho - O Menino de Campo Formoso", de Francisco Ricardo de Souza. Imagens: Divulgação. Publicação autorizada pelo autor. Todos os direitos reservados.

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