Provavelmente originário do município de Santa Juliana, Triângulo Mineiro, onde exerceu entre outros cargos o de agente dos correios, o professor público Salviano Pedro Borges teve a sua presença conhecida em Campo Formoso (Orizona) a partir de 1899[1], quando foi nomeado aos 08 de outubro como professor público do Escola de Primeira Entrância do Sexo Masculino, equivalente ao ensino primário. Também nesta época acumulava a função de delegado literário, uma espécie de inspetor da educação no distrito. Acumulou o cargo de professor até 20 de dezembro de 1906[2], quando pediu exoneração após ser nomeado coletor de rendas municipais.
Como
homem culto e envolvido com o processo político local, deu grandes
contribuições para o desenvolvimento local. Em 1903, por exemplo, quando foi
criado o Club Patriótico de Campo Formoso, o professor exerceu a função de
secretário da agremiação. Na criação da Vila de Campo Formoso, Salviano foi
nomeado para o Conselho de Intendência e chegou a discursar na sua instalação,
em 15 de outubro de 1906. Em 1911, o professor exercia o cargo de Promotor
Público. Foi exonerado em 1917[3]. Também chegou a ser intendente
municipal de Campo Formoso, cargo hoje equivalente a prefeito.
Em
sua vida particular, exerceu diversas atividades, sendo uma delas a de
farmacêutico. A sua família deixou um importante legado para o município: era
pai de Abilon (tabelião e com atuação política), Eustórgio (dentista),
Ildebranda (esposa de Minervino Silva), Onésima (casada com Manoel Silvério de Oliveira e Urbano. Salviano atuou também como correspondente em jornais da
região. Ao jornal Araguary em especial,
escreveu diversos artigos. Assinava-os com o pseudônimo de Nilo-Vasa e falava
de assuntos do cotidiano de Campo Formoso, dos visitantes, das relações
comerciais e especialmente se preocupava com o desenvolvimento econômico local.
Casado com Maria Claudina Gonçalves Borges (1864-), Salviano morreu em 14 de novembro de 1923. No
artigo abaixo, publicado na edição de 13 de março de 1909[4], o
colunista fala da preocupação com o desenvolvimento econômico local. Segundo o
mesmo, Campo Formoso estava ficando em situação atraso em relação aos demais
municípios vizinhos.
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Campo
Formoso (Goiás)
Seja embora tido como utopia o que
lembrei a meus conterrâneos em benefício do município e mais ainda da mocidade,
que parece de inatividade, cumpro o dever à que me impus.
Em quase todos os nossos municípios
vizinhos contam um fator seguro de sua riqueza, e um meio de colocação à
mocidade que aspira um lugar na sociedade dos homens úteis.
Bella Vista, além da enorme quantidade
de fumo que fabrica, cuja renda é maior que a que dá o gado que cria, tem hoje
entre diversas pequenas oficinas de seleiro, sapateiro, etc, um curtume modelo
chamando a atenção do consumidor e atraindo a concorrência de capitais, dando,
portanto, emprego a grande número de rapazes em ocupações sérias e úteis ao
mesmo tempo em que aumenta o fundo de reserva particular e pública de seu
município.
Santa Cruz, de pouco tempo a esta parte
começou a ocupar-se do plantio de café e hoje conta com diversos pequenos
cafezais que produzirão a sua riqueza futura, chamando os capitais para aumento
da mesma.
Bomfim produz bastante café e fumo de
primeira qualidade, além de engenhos de cana que abastecem o município e
exportam grande quantidade de açúcar e aguardente. Santa Luzia tem o conhecido
e saboroso café, melhor café do Estado, fabrica em grande escala a marmelada, a
goiabada e tem diversas oficinas de seleiro e sapateiro, onde dão meio a seus
filhos de viver independentes.
Antas a par de uma lavoura bem
desenvolvida de café e cereais, cana-de-açúcar, etc, em escala superior ao
consumo do município fabrica fumo, aliás bem regular, e tem diversas pequenas
oficinas onde se ensina a mocidade a trabalhar e concorrendo para riqueza
pública e particular do lugar, chamam a concorrência de capitais e de pessoas
para engrossar o número de seus habitantes.
Corumbazinho, um dos mais ricos
municípios do Estado, dispondo de casas comerciais importantíssimas, tem como
em nenhum outro município, café, açúcar, fumo e oficinas de trabalho.
Qual a riqueza de Campo Formoso? Felizmente
começam alguns lavradores inteligentes da fazenda Taquaral o plantio do café e
com grande esperança, porque vem coroado do melhor êxito e suas tentativas.
Precisamos prever nosso futuro, amparar
a mocidade, que não tem ocupação séria e estável e é possível perder-se no
vício.
Precisamos melhorar a riqueza deste
próspero município, dando-lhe maior desenvolvimento nas artes, ofícios e
lavoura, obstando desta arte a saída de capitais para a compra de centenas de
arrobas de café, promover a criação de curtumes
de real importância, para evitar a compra contínua de matéria-prima para
os poucos oficiais que aqui trabalham, aumentar, amparando ou mesmo criando uma
boa oficina de seleiro e sapateiro e desta forma desviar a saída constante de
dinheiro para a compra de arreios e calçados, obter bons oficiais de ferreiro,
alargar o campo de consumo, etc.
NILO-VAZA
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ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)
Referências, Fontes Documentais e Notas:
1.
Ver: Semanário Official. Ano VI, n. 214, pag. 7, de 09/12/1899.
2.
Ver: Semanário Official. Ano XIV, n. 378, pag. 3, de 23/03/1907.
3.
Ver: Correio Official. n. 103, pag. 1, de 29/1/1917.
4.
Ver: Araguary. n. 652, pag. 02, de 13/03/1909.
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