Pode ocupar o imaginário do
morador de Orizona, ao tentar remeter mentalmente à sua história após ler alguma publicação sobre o assunto, que no
período anterior a 1850, o sertão de Santa Cruz, onde hoje está instalado o
Município, seria um verdadeiro deserto, sem qualquer ocupação humana. Essa
concepção não está totalmente errada, mas não procede plenamente. É importante
salientar que a região estava próxima dos principais caminhos desbravados pelos
colonizadores, desde as primeiras décadas do século XVIII e que rumavam à
antiga capital, Vila Boa.
As primeiras minas de
Santa Cruz foram descobertas por Manoel Dias da Silva e em 1737 aparece a
primeira referência à Capela Curada dedicada a Nossa Senhora da Imaculada
Conceição, de Santa Cruz. Bomfim (Silvânia) foi fundada no ano de 1774 e ficava
na Estrada Geral de Goiás. Em 1823, o povoamento dependia administrativamente
do julgado de Santa Cruz. Nesta época foram registrados por viajantes sítios e fazendas de
moradores que haviam se instalado na região. Entre esses viajantes, o
brigadeiro Cunha Mattos e os naturalistas Luiz Alencoust e Auguste Saint-Hilaire.
Segundo o brigadeiro
Raymundo José da Cunha Mattos, governador das armas em Goiás, em sua “Carta Corográfica
Plana da Província de Goiás” (1826), o caminho que seguia entre São Paulo/ Rio
de Janeiro a Vila Boa atravessava o Rio Corumbá cerca de três quilômetros
abaixo de onde hoje está a velha ponte Epitácio Pessoa (Travessia do
Anhanguera), passava por S. Cruz, seguia por Bomfim, Meia-Ponte (Pirenópolis).
Era a chamada Estrada Geral de Goiás. Outro caminho para a Capital passava após
Bomfim, por Campinas, pela estrada de Anicuns, descoberta por João Caetano da
Silva em 1817.
Segundo observava Cunha
Mattos[1], no trecho entre Santa Cruz e Bomfim existiam pontos de
parada de tropeiros e viajantes. Nesses pontos estavam situados sítios ou
fazendas. Eram conhecidos os sítios Campo Aberto e Santa Rita e o Rancho do
Basílio. Uma estrada interna posteriormente e conhecida em 1823 foi aberta e
remetia da travessia do Corumbá sem passar em Santa Cruz, passava pelo sítio do
Baú até o Campo Aberto. Próximo a Campo Aberto iniciava a estrada rumo a Santa
Luzia (Luziânia), margeando localidades como o Taquaral, Piracanjuba, Água Clara e Boa Vista. No mapa de Cunha Mattos estava
identificado o córrego da Firmeza, cortado pela estrada de Santa Luzia. O nome
Firmeza foi dado pelas condições de travessia do córrego em certo ponto, que
era feita “a val” sem que animais e carros atolassem. Por conta das estradas,
essas regiões foram as primeiras a serem povoadas pelos imigrantes oriundos de
Minas Gerais e São Paulo.
Um dos primeiros
moradores da Firmeza foi o fazendeiro Joaquim Fernandes de Castro,
que veio de Patrocínio/MG com a esposa Maria Rosa do Carmo e filhos,
estabelecendo e exercendo liderança na região por volta de 1848. Há poucos
registros de sua presença, mas queremos destacar um episódio em especial, fato
que impactou na divisão geográfica de Santa Cruz e Bomfim.
Toda essa região estava
na época da chegada da família, como parte do município de Santa Cruz. Porém,
algum fato não muito claro, como a distância geográfica ou afinidades políticas e econômicas fizeram que Joaquim Fernandes de Castro solicitasse em 1875 junto à Assembleia
Provincial a transferência de sua fazenda de nome “Formiga”, do território de
Santa Cruz para Bomfim[2]. O requerimento, apresentado na sessão
legislativa de 03 de junho de 1875, foi encaminhado na ocasião para a Comissão
de Estatística. Na sessão do dia 09 do mesmo mês, conforme a ata[3],
“foi lido mais um parecer da mesma
comissão de estatística sobre o requerimento do cidadão Joaquim Fernandes de
Castro, o qual sendo aprovado, mandou-se extrair cópia, a ser remetido ao Exmo.
governo da província para tomar a consideração que merecer”.
A resolução da
assembleia provincial foi registrada na 43ª. Sessão Ordinária da Assembleia
Legislativa Provincial de Goiás, em 27 de julho de 1876[4], e também
incluiu na mudança a região do Campo Aberto. Resolução de igual teor e com
valor de lei foi assinada pelo governador Antero Cícero d’Assis em 09 de agosto
de 1876 e publicada no Correio Official
em 13 de setembro de 1876[5], com a redação transcrita abaixo:
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“Resolução
n. 570 de 9 de Agosto de 1876.
Transfere do termo de S. Cruz para o de Bomfim o território das
fazendas Firmeza e Campo Aberto.
Antero Cícero d’Assis, Presidente da província de Goiás.
Faço saber a todos aos seus habitantes que a assembleia legislativa
provincial resolveu e eu sancionei a resolução seguinte:
Art. 1º. Fica pertencendo, tanto na parte civil como na religiosa ao
termo da freguesia de Bomfim, o território de que se compõem as fazendas
Firmeza e Campo Aberto, da propriedade, aquela de Joaquim Fernandes de Castro,
e esta dos herdeiros da finada D. Jacintha de Mello, e assim desmembrando do
termo e freguesia de S. Cruz, de que fazia parte.
Art. 2º. Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e
execução desta resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão
inteiramente como nela se conter. O secretário desta província a faça imprimir,
publicar e correr. Palácio do Governo de Goiás, aos nove de Agosto de mil
oitocentos e setenta e seis, quinquagésimo quinto da Independência e do
Império.
L.S.
ANTERO CÍCERO D’ASSIS
Selada e publicada nesta Secretaria de Governo da província de Goiás,
aos 12 de Agosto de 1876 – O Secretário, Caetano Nunes da Silva.”
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Esta resolução vigorou
até a edição da Lei n. 277 de 12 de julho de 1906[6], que elevou à
categoria de Vila o arraial de Campo Formoso e fixou os seus limites
territoriais.
ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)
Fontes Documentais:
1. MATTOS, Raymundo
José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão pelas Províncias
de Minas Gerais e Goiás – Tomo I. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1836.
2. Correio Official de
Goyaz. Ano XXXVIII. N. 43, pág. 3, 16 de junho de 1875.
3. Correio Official de
Goyaz. Ano XXXVIII. N. 46, pág. 5, 03 de julho de 1875.
4. Correio Official de
Goyaz. Ano XXXIX. N. 92, pág. 3, 29 de novembro de 1876.
5. Correio Official de
Goyaz. Ano XXXIX. N. 70, pág. 1, 13 de setembro de 1876.
6. Lei sancionada pelo
presidente do Estado de Goiás, Miguel da Rocha Lima. Ver: Semanário Official.
N. 349, pág. 1, 09 de agosto de 1906.
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