O padre Antonio Luis Bras Prego, vigário colado de Santa Cruz de Goiás por longo período durante o século XIX, foi historicamente uma das figuras mais eminentes e respeitadas ao longo dos quase 290 anos daquela localidade. Foi, além de um importante religioso, o grande orador e uma respeitada figura política. Fez inúmeras desobrigas pelos sertões de Santa Cruz, Santa Luzia (Luziânia), Bonfim (Silvânia), Vai-Vem (Ipameri), Caldas Novas, Vila Bela de Morrinhos, entre outras localidades. Nesses compromissos pastorais, ministrou sacramentos e em troca, recebeu o respeito das comunidades rurais. Exerceu o ministério por uma vida toda em Santa Cruz.
Nasceu em Vila Boa, capital de Goiás, em 24 de dezembro de 1824, filho do Cap. Gregório dos Santos Silva e de Delfina Antonia do Espírito Santo. Os seus pais provavelmente se casaram em 15 de janeiro de 1807, em Meia Ponte (Pirenópolis). Foram seus avós paternos: Jerônimo Barbosa dos Santos e Cândida Caetano Leite de Proença; e os avós maternos: Sargento-Mor Francisco da Costa Abrantes e Maria Thomásia da Conceição.
Sabemos de dois irmãos do sacerdote: Maria Thomásia Abrantes, casada com Timóteo Coelho Magalhães e Gregório da Silva Abrantes, casado com Angélica de Ascensão Lobo de Sousa, ambos os casais com números filhos. Era seu sobrinho, filho de Gregório e Angélica, o eminente político Braz Benjamin da Silva Abrantes, general (participou da campanha do Paraguai), professor, presidente interventor de Goiás, senador da República e vice-presidente do Estado de Goiás. Assim como outro conterrâneo seu, Antonio Americano do Brasil, o silvaniense foi homenageado com o nome de uma cidade do Estado.
Antonio ordenou com 31 anos de idade. Foi provisionado na paróquia de Santa Cruz pelo decreto diocesano de 15/05/1856, com carta de apresentação datada de 03/0/06/1856. A lei nº 939 de 26/09/1857 fixou o seu ordenado em 600$000 (seiscentos mil réis). Uma das primeiras atribuições suas e que deu muito trabalho foi fazer os registros de terra dos proprietários de Santa Cruz, dadas pela Lei de Terras. Em 18 de setembro de 1850, o imperador dom Pedro II assinou a Lei de Terras, por meio da qual o país oficialmente optou por ter a zona rural dividida em latifúndios, e não em pequenas propriedades. Coube aos vigários paroquiais exercerem esse trabalho. Os registros feitos nas freguesias da região estão ainda hoje disponíveis para pesquisa. Os de Santa Cruz foram arquivados em uma caixa de número 51. Deixamos abaixo, para exemplo, de um desses registros:
“Declaro que possuo uma parte
de terra de cultura e campos na fazenda denominada Barra das Areias distante
desta Vila oito léguas dividindo pela parte do Nascente com o Piracanjuba, pelo
Poente com João Corrêa Peres, pelo Norte com herdeiros de Manoel Brás, pelo Sul
com herdeiros do finado Jacinto Alves Cabral, cujo a possuo por compra o qual
tenho títulos.
Barra das Areias, 25
de Novembro de 1857.
Anna Roza de
Morais
Foi apresentado, registrado em
o dia 25 de Novembro de 1857 (...).
O Vigário Colado
Antonio Luis Bras Prego”
Sobre os primeiros anos de povoação dos Correas, o padre José Trindade da Fonseca e Silva (Cônego Trindade) observou esse movimento, inclusive da presença do padre Prego (1945): “Na fase de povoamento e habitações que formaram a Capela mais tarde de Nossa Senhora da Piedade assinam os assentos paroquiais os seguintes vigários de Santa Cruz: Vigário Colado Pe. Antonio Joaquim Ferreira, Pe. Antonio Joaquim de Azevedo e Pe. Antonio Luiz Braz Prego, que em 1870 benze a Capela dos Correias. Entre diversos coadjutores são dignos de registros os padres José Olinto da Silva e Antonio Ferreira de Lima, os quais percorreram a região pregando a palavra de Deus e sacramentando as almas até três vezes por ano, obedecendo ao seguinte itinerário: Santa Cruz, Porto do Corumbá, Baú, Cocal, ora Marinheiro, ora Santa Bárbara, Cachoeira, Posses, Campo Alegre e Santa Cruz. De 1853 até a construção da Capela o movimento na Fazenda Santa Bárbara cresce progressivamente”. Em 19 de junho de 1869, Prego teve a licença do Bispado para benzer o cemitério de Santa Cruz.
Dentre seu trabalho nas comunidades, visitava inclusive localidades pertencentes a outras paróquias. Aos 25 de julho de 1862, por exemplo, no Sítio Burity em Santa Luzia (Luziânia), o vigário de Santa Cruz batizou solenemente e pôs os Santos Óleos em Rosa, filha de Joaquim Manoel da Costa e Joaquina Moreira Saavedra.
Desde a sua chegada, acumulou cargos públicos. Um dos primeiros foi o de inspetor escolar paroquial, cargo que foi exonerado em 20 de fevereiro de 1867, pelo presidente da província de Goiás, sendo nomeado em seu lugar Francisco Joaquim Marques. Contudo, foi nomeado em outras ocasiões, como em 27 de dezembro de 1878, em substituição a Lino Corrêa de Souza. O cargo era equivalente ao de secretário de Educação.
Também exerceu cargos eleitorais em Santa Cruz. Em 1872 era suplente de eleitor, após obter 28 votos. Em 31 de dezembro de 1881 se candidatou a Deputado Provincial, obtendo 37 votos na Eleição Provincial. A apuração foi feita em 20 de janeiro de 1882, ficando para o segundo escrutínio (nova eleição), para eleição dos demais membros do 1º Distrito (no 1º escrutínio elegeram-se 04 deputados). Em 31 de março de 1882 foi feita a apuração do 2º Escrutínio e padre Prego obteve 60 votos, não sendo eleito. Em 1886 era membro da Câmara Municipal da vila de Santa Cruz. Em 06 de agosto de 1873, Ministro do Império nomeou padre Prego Cavaleiro da Ordem de Cristo, pelos distintos serviços prestados no exercício durante o seu ministério.
Geralmente retornava a sede do Bispado de Goiás por ocasião de atividades importantes da diocese. Em jornal da época obtivemos informações a respeito de sua presença nessas ocasiões: em 19 de abril de 1873, Quinta-feira Santa, participou da cerimônia dos Santos Óleos e do Lava-pés. No dia seguinte, Sexta-feira da Paixão, fez pregação durante procissão.
Era mutuário da Associação Brasileira de Seguros e Benefícios Mútuos sobre Vida, contra o Fogo e Caixa Geral de Economias Mútuos (seguro de vida), autorizada pelo decreto nº 4.897 de 1874.
Um questionamento que vi certa vez foi da forma correta que se escrevia o nome do padre Prego, pois aparecia de diversas formas. A dúvida foi apresentada pelo escritor orizonense Olímpio Pereira Neto. Tenho conclusões bem precisas a respeito, de acordo com a sua assinatura presente em alguns documentos: era Antonio Luis Bras Prego. Não era usual no século XIX a acentuação de nomes próprios. Luis e e Bras também escrevia com 'S' no final (ver assinatura acima).
O padre Prego vinha se licenciando para tratamentos de saúde havia um bom tempo. Em 04 de maio de 1874, oficio do bispo de Goiás deu-lhe licença de 50 dias para tratamento de saúde na Capital. Em 30 de setembro de 1876 o bispo deu-se licença de dois meses. Faleceu em 30 de setembro de 1890, sendo sepultado ao lado da Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Santa Cruz. Foi homenageado dando nome a importante rua da cidade, que antes se chama Rua Direita (o mesmo que Direta).
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