quarta-feira, 23 de novembro de 2022

As Homenagens por ocasião da morte de Egerinêo Teixeira

Estamos seguindo para o terceiro texto subsequente em que tratamos de algum fato ou momento da vida do jornalista e ex-prefeito de Orizona Egerinêo Teixeira. Há sete anos aproximadamente, que venho dedicando a pesquisar sobre a vida e obra do mesmo. Nesse período, selecionamos algumas centenas de documentos para o que seria um livro sobre a sua vida, mas que não foi possível por enquanto.
A partir da pesquisa sobre Egerinêo que avancei no estudo sobre a história da região sudeste de Goiás, especialmente de Orizona, além da genealogia das principais famílias. Parto do princípio que, dentro do possível, toda pesquisa deve ser documental e que os relatos orais servem para direcionar os estudos historiográficos. E é assim que faço em todos os textos em que apresento estudos históricos.
Com o falecimento, Egerinêo, que era muito próximo de Cônego Trindade, apesar de não ser um cristão devoto, foi sepultado na Igreja Matriz de Campo Formoso, junto de alguns notáveis e políticos influentes, como o seu sogro Cel. José da Costa Pereira Sobrinho. O prefeito nascera em 11 de janeiro de 1899 em Bela Vista-GO, filho de famílias principalmente de Santa Cruz (falaremos de sua biografia posteriormente).
Após a sua morte, recebeu muitas homenagens em outros municípios da região, sendo homenageado com nomes de ruas, avenidas, praças e povoados. Em Campo Formoso, até que fosse nomeado um prefeito interventor, seu sobrinho Geraldo Araujo Valle (filho do irmão Idomineo Marques) assumiu a função de encarregado de expediente da Prefeitura e emitiu os decretos nº 19, 20 e 21, abrindo crédito suplementar e normatizando homenagens. Sebastião Lobo, importante comerciante e fazendeira de Bela Vista, era naquela época prefeito do município e parente de Egerinêo. Assim, como primeira iniciativa, o homenageou dando nome da Rua 24 de outubro para Rua Egerinêo Teixeira, pelo decreto municipal nº 10. Um ofício foi encaminhado à viúva Carolina Teixeira, com data de 04 de julho de 1938:

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELLA VISTA

ESTADO DE GOYAZ

 

Em 4 de Julho de 1938.

 

Exma. Sra. Dona Carolina Teixeira.

 

                Comunico-vos que esta Prefeitura, prestando de uma singela homenagem e memória do grande filho de Bela-Vista que tombou morto, covardemente assassinado, no cumprimento de seu dever, baixou o decreto nº 10, do qual incluo a este uma cópia, que dá o nome de Rua Egerineu Teixeira a uma das principaes artérias desta cidade.

 

                Respeitosas saudações.

 

SEBASTIÃO LOBO

Prefeito.”

 

                Exatamente um mês depois, a esposa respondeu ao ofício, num gesto de agradecimento:

 

“Campo Formoso, 4 de agosto de 1938

 

Exmo. Sr. Sebastião Lobo

DD. Prefeito Municipal

BELA VISTA

 

                Acuso o recebimento do ofício s/n, datado de 4 de julho próximo findo, de V. Excia., em que teve a bondade de me comunicar da mudança do nome da Rua 24 de Outubro, dessa cidade, para o nome do meu falecido marido Egerinêo Teixeira, assim como da cópia do decreto relativo a essa mudança, lavrado por V. Excia.

                Peço a V. Excia. Que compreenda a minha gratidão por esse gesto de homenagem à memória do meu esposo, pois essa gratidão é daquelas que não se expressa por palavras.

               

                Atenciosas saudações.

 

CAROLINA TEIXEIRA”

 

                O primeiro ato de homenagem de Campo Formoso e Estado de Goiás através de medida que mudou a nomenclatura de espaço público foi a mudança do nome da estação de Ubatan e do povoamento ao redor para Egerineu Teixeira, permanecendo assim até 2009, quando a Câmara Municipal decidiu pela retomada do nome antigo. O jornal NOSSA FOLHA de Pires do Rio-GO, registrou em sua capa, na edição nº 23 de 04 de maio de 1940 a mudança do nome da estação:

 

ESTAÇÃO EGERINEO TEIXEIRA

                Egerineo Teixeira é o novo nome da antiga Ubatan, estação da Estrada de Ferro Goiás e ponto de desembarque do passageiro que procura a cidade de Campo Formoso. Logo após o passamento trágico do inolvidável jornalista-prefeito, Egerineo Teixeira, a cidade de Campo Formoso e o Estado de Goiás sentiram-se profundamente golpeados na sua reserva de homens de valor; e um dos gestos que bem refletiram o apreço e a consideração que os goianos dispensaram sempre ao inditoso finado, foi o de emprestar o seu nome à Estação de Ubatan. Póstuma e merecida homenagem, expressiva revelação do veludoso carinho dispensado por Goiás a seu filho ilustre.

                Tudo passa na terra; mas a memória do talento e das belezas do coração perdura respeitada pelos séculos. Egerineo que era a lidima encarnação destas nobres qualidades, não podia ficar esquecido na letargia do morto, pelos seus coestaduanos.

                A Justiça trajando a indumentária inconsútil da equidade, abriu um sarcófago e com o sinete da imortalidade retirou dali um nome: Egerineo Teixeira.

                Hoje Egerineo Teixeira é a Estação de Ubatan”.

               

Orizona também homenageou o ex-prefeito com o nome de uma das principais vias públicas, que ligava o Centro ao bairro Nossa Senhora de Fátima e a saída noroeste da cidade: A avenida Egerineu Teixeira. Outras localidades como Anápolis, Goiânia e Catalão possuem vias públicas que homenageiam o prefeito-jornalista.
Talvez a homenagem mais expressiva foi a transferência do corpo de Egerinêo para Bela Vista, amplamente registrada e abordada na época pela imprensa e por outros como os escritores José Lobo (cunhado de Egerinêo), Victor de Carvalho Ramos e mais recentemente por Olímpio Pereira Neto em seu “Orizona: Campo e Cidade – 2ª edição). A pedido da comunidade bela-vistense e de sua família, o corpo foi exumado, em um cortejo marcado por homenagens em Campo Formoso, Vianópolis, Bonfim (Silvânia) e Bela Vista, e depois foi sepultado na terra natal. Um texto expressivo e que marcou a história da imprensa goiana foi a crônica “Ossos que Cantam Vitória”, do Cônego José Trindade da Fonseca e Silva (Cônego Trindade), pároco de Campo Formoso e Santa Cruz, que fala de sua vitória, mesmo sendo fisicamente abatido por um adversário.
Citamos abaixo algumas publicações a respeito de Egerinêo Teixeira, feitas por amigos e colegas da política e da imprensa após o seu falecimento:

 

CÔNEGO TRINDADE (padre, escritor e político):

“Egerinêo morreu antes do tempo. Pesava sobre ele aquele espírito irrequieto de mocidade que tudo quer compreender seu organismo, por másculo que fosse, era resistente para tanta elucubração. Dir-se-ia! ‘Erásmico’ da conquista de um ideal. Seus preceptores foram os livros policrômicos. Leu todas as correntes filosóficas. Foi político para por em prática todas as suas ideias humanistas”.

 

GUILHERME XAVIER DE ALMEIDA (político e intelectual goiano):

“... Em campanha não conhecia o meio termo. A sua gargalhada enorme soava como um clarim. De seu tinteiro forravam ondas de sarcasmos. Às vezes terá ofendido mais do que devia... Quem tem os olhos nas estrelas pode engomar-se nas encruzilhadas. Mas a verdade, para quem lhe contempla a trajetória geral da vida, é que sua jornada foi para a frente e para o alto...”

                               

VITOR DE CARVALHO RAMOS (escritor e jurista goiano):

“... Sua situação na imprensa deu-lhe lugar de relevo entre os maiores polemistas da terra goiana. Tinha personalidade. Seu estilo, em idioma escorreito, encantava pela simplicidade, clareza e verve. De uma coragem cívica a toda prova, arriscava a vida quando saía a campo a reduzir às próprias proporções os zoilos do poder, que a si mesmo se arrogavam o direito de espoliar o patrimônio da comunidade. Com uma penada punha abaixo os falsos ídolos, de corpo de bronze e pés de barro. Movia-o a combate-los não a despeito, o ódio pessoal ou quaisquer interesses subalternos, mas o desejo único de bem servir a causa coletiva”.

 

ODORICO COSTA (jornalista e político):

“Jornalista perfeito, político dos mais nobres e dos mais puros ideais, cidadão inatacável, Egerinêo Teixeira enche os traços fulgurantíssimo largos trechos da história de Goiás destes últimos anos.

De traços tão brilhantes, que fazem lembrar essas figuras formidáveis das fronteiras dos prédios entre fidalgos e portugueses e os mouros, esses lidadores magníficos vestidos de lorigão, de malhas de ferros, empunham do durindanas e puríssimo aço toledano, alcançando-se desabrido no alarido das justas e dos recentros, iluminados de fé e ordenado de amor por sua terra”.

 

GERALDO ARAÚJO VALLE (jornalista orizonense):

“Foi um bólido que passou, cintilou e desapareceu. Se Egerinêo Teixeira fosse carioca ou paulista, seu nome seria hoje um impacto na história, especialmente de jornalismo, da literatura e da política. Como político é um inadaptável por ser intransigente e idealista puro. Como literatura trazia na beleza do estilo, no emprego originalíssimo do  vocabulário e na riqueza de imagens, algo singular, pessoal, único, isso na clareza e simplicidade das expressões, sem empolamentos e rebuscamentos”.

 

OFÉLIA DI TEIXEIRA (professora e jornalista orizonense):

Falar sobre meu pai, é voltar ao passado, é reviver momentos alegres e também momentos tristes. Meu pai tinha uma grande vocação pela política, muito inteligente, arrojado, tinha loucura pelos livros, possuía uma cultura e preparo administrativo. Quando solteiro foi nomeado o promotor público, antes de ser prefeito em Campo Formoso. Manobrava a política e era um grande jornalista. No setor da agricultura, ele contratou um agrônomo, vindo de Paracatu-MG, para a implantação da agricultura mecanizada. No setor de transporte, muito contribuiu para a realização de várias obras, como as rodovias para Pires do Rio, Santa Luzia (atual Luziânia), Bonfim que hoje é Silvânia. Meu pai conseguiu uma jardineira bem moderna para a época, a qual fazia o trajeto Ubatan (hoje Egerineu Teixeira) a Campo Formoso, atual Orizona. Era um homem com grande potencial, corajoso e não poupava esforços para fazer um bom trabalho”. (DEPOIMENTO A DEUSENIR ALVES DE OLIVEIRA).

 

Com o tempo, as pessoas vão sendo esquecidas ou ficam desconhecidas das novas gerações. É um processo bastante natural. Por isso mesmo é importante reativarmos essas memórias.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA

(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)

 

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