“PREFEITURA MUNICIPAL DE BELLA VISTA
ESTADO DE GOYAZ
Em 4 de Julho de 1938.
Exma. Sra. Dona Carolina Teixeira.
Comunico-vos
que esta Prefeitura, prestando de uma singela homenagem e memória do grande
filho de Bela-Vista que tombou morto, covardemente assassinado, no cumprimento
de seu dever, baixou o decreto nº 10, do qual incluo a este uma cópia, que dá o
nome de Rua Egerineu Teixeira a uma das principaes artérias desta cidade.
Respeitosas
saudações.
SEBASTIÃO LOBO
Prefeito.”
Exatamente
um mês depois, a esposa respondeu ao ofício, num gesto de agradecimento:
“Campo Formoso, 4 de agosto de 1938
Exmo. Sr. Sebastião Lobo
DD. Prefeito Municipal
BELA VISTA
Acuso
o recebimento do ofício s/n, datado de 4 de julho próximo findo, de V. Excia.,
em que teve a bondade de me comunicar da mudança do nome da Rua 24 de Outubro,
dessa cidade, para o nome do meu falecido marido Egerinêo Teixeira, assim como
da cópia do decreto relativo a essa mudança, lavrado por V. Excia.
Peço
a V. Excia. Que compreenda a minha gratidão por esse gesto de homenagem à
memória do meu esposo, pois essa gratidão é daquelas que não se expressa por
palavras.
Atenciosas
saudações.
CAROLINA TEIXEIRA”
O
primeiro ato de homenagem de Campo Formoso e Estado de Goiás através de medida
que mudou a nomenclatura de espaço público foi a mudança do nome da estação de
Ubatan e do povoamento ao redor para Egerineu Teixeira, permanecendo assim até
2009, quando a Câmara Municipal decidiu pela retomada do nome antigo. O jornal
NOSSA FOLHA de Pires do Rio-GO, registrou em sua capa, na edição nº 23 de 04 de
maio de 1940 a mudança do nome da estação:
“ESTAÇÃO EGERINEO TEIXEIRA
Egerineo
Teixeira é o novo nome da antiga Ubatan, estação da Estrada de Ferro Goiás e
ponto de desembarque do passageiro que procura a cidade de Campo Formoso. Logo
após o passamento trágico do inolvidável jornalista-prefeito, Egerineo
Teixeira, a cidade de Campo Formoso e o Estado de Goiás sentiram-se
profundamente golpeados na sua reserva de homens de valor; e um dos gestos que
bem refletiram o apreço e a consideração que os goianos dispensaram sempre ao
inditoso finado, foi o de emprestar o seu nome à Estação de Ubatan. Póstuma e
merecida homenagem, expressiva revelação do veludoso carinho dispensado por
Goiás a seu filho ilustre.
Tudo
passa na terra; mas a memória do talento e das belezas do coração perdura
respeitada pelos séculos. Egerineo que era a lidima encarnação destas nobres
qualidades, não podia ficar esquecido na letargia do morto, pelos seus
coestaduanos.
A
Justiça trajando a indumentária inconsútil da equidade, abriu um sarcófago e
com o sinete da imortalidade retirou dali um nome: Egerineo Teixeira.
Hoje
Egerineo Teixeira é a Estação de Ubatan”.
CÔNEGO TRINDADE (padre, escritor e político):
“Egerinêo morreu antes do tempo. Pesava sobre ele aquele
espírito irrequieto de mocidade que tudo quer compreender seu organismo, por
másculo que fosse, era resistente para tanta elucubração. Dir-se-ia! ‘Erásmico’
da conquista de um ideal. Seus preceptores foram os livros policrômicos. Leu
todas as correntes filosóficas. Foi político para por em prática todas as suas
ideias humanistas”.
GUILHERME XAVIER DE ALMEIDA (político e intelectual
goiano):
“... Em campanha não conhecia o meio termo. A sua gargalhada
enorme soava como um clarim. De seu tinteiro forravam ondas de sarcasmos. Às
vezes terá ofendido mais do que devia... Quem tem os olhos nas estrelas pode
engomar-se nas encruzilhadas. Mas a verdade, para quem lhe contempla a
trajetória geral da vida, é que sua jornada foi para a frente e para o alto...”
VITOR DE CARVALHO RAMOS (escritor e jurista goiano):
“... Sua situação na imprensa deu-lhe lugar de relevo
entre os maiores polemistas da terra goiana. Tinha personalidade. Seu estilo,
em idioma escorreito, encantava pela simplicidade, clareza e verve. De uma
coragem cívica a toda prova, arriscava a vida quando saía a campo a reduzir às
próprias proporções os zoilos do poder, que a si mesmo se arrogavam o direito
de espoliar o patrimônio da comunidade. Com uma penada punha abaixo os falsos
ídolos, de corpo de bronze e pés de barro. Movia-o a combate-los não a
despeito, o ódio pessoal ou quaisquer interesses subalternos, mas o desejo
único de bem servir a causa coletiva”.
ODORICO COSTA (jornalista e político):
“Jornalista perfeito, político dos mais nobres e dos
mais puros ideais, cidadão inatacável, Egerinêo Teixeira enche os traços
fulgurantíssimo largos trechos da história de Goiás destes últimos anos.
De traços tão brilhantes, que fazem lembrar essas
figuras formidáveis das fronteiras dos prédios entre fidalgos e portugueses e
os mouros, esses lidadores magníficos vestidos de lorigão, de malhas de ferros,
empunham do durindanas e puríssimo aço toledano, alcançando-se desabrido no
alarido das justas e dos recentros, iluminados de fé e ordenado de amor por sua
terra”.
GERALDO ARAÚJO VALLE (jornalista orizonense):
“Foi um bólido que passou, cintilou e desapareceu. Se Egerinêo
Teixeira fosse carioca ou paulista, seu nome seria hoje um impacto na história,
especialmente de jornalismo, da literatura e da política. Como político é um inadaptável
por ser intransigente e idealista puro. Como literatura trazia na beleza do estilo,
no emprego originalíssimo do vocabulário
e na riqueza de imagens, algo singular, pessoal, único, isso na clareza e
simplicidade das expressões, sem empolamentos e rebuscamentos”.
OFÉLIA DI TEIXEIRA (professora e jornalista orizonense):
“Falar sobre meu pai, é voltar ao passado, é reviver
momentos alegres e também momentos tristes. Meu pai tinha uma grande vocação
pela política, muito inteligente, arrojado, tinha loucura pelos livros, possuía
uma cultura e preparo administrativo. Quando solteiro foi nomeado o promotor
público, antes de ser prefeito em Campo Formoso. Manobrava a política e era um
grande jornalista. No setor da agricultura, ele contratou um agrônomo, vindo de
Paracatu-MG, para a implantação da agricultura mecanizada. No setor de
transporte, muito contribuiu para a realização de várias obras, como as
rodovias para Pires do Rio, Santa Luzia (atual Luziânia), Bonfim que hoje é
Silvânia. Meu pai conseguiu uma jardineira bem moderna para a época, a qual
fazia o trajeto Ubatan (hoje Egerineu Teixeira) a Campo Formoso, atual Orizona.
Era um homem com grande potencial, corajoso e não poupava esforços para fazer
um bom trabalho”. (DEPOIMENTO A DEUSENIR ALVES DE OLIVEIRA).
ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)
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