segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A trajetória de Jacintho e a sua colaboração na formação da região do Taquaral

Temos em Orizona a tradição de chamarmos uma grande descendência familiar pelo nome de um antepassado comum. Daí, temos ‘os Jacintos’, ‘os Albinos’, ‘os Venâncios’, ‘os Lourenços’, entre outros, mesmo que a pessoa não tenha herdado o sobrenome. Neste texto, trataremos do antepassado comum de uma importante família do Taquaral, que se espalhou pelo município de Orizona: Jacintho Pereira Cardoso Júnior.
Jacintho Júnior nasceu em 1827 em Patrocínio, Minas Gerais, filho de Jacintho Pereira Cardoso e de Joaquina Rosa de Jesus, sendo que a mãe faleceu em 20 de maio de 1829. Era o irmão mais jovem do capitão José Pereira Cardoso (nomeado capitão da Guarda Nacional em 1883, lotado na 3ª companhia de Santa Cruz). Seu pai era filho de Manoel Pereira Cardoso e Ana Joaquina de Jesus e a mãe, filha de Antonio Gonçalves Pinheiro e Violante Antonia de Jesus.
A família paterna tinha origem na ilha de Açores, em Portugal e a materna, migrou de São Francisco de Paula para Patrocínio. Cabe aqui fazer referência a pesquisa do escritor e médico Fabrício Nunes, que publicou recentemente Fazenda Marinheiro – Orizona: uma viagem genealógica entre a Europa e os sertões do Brasil (2022), um trabalho primoroso que traz informações inéditas a respeito de algumas famílias. Em suas indagações em Patrocínio, contou com o apoio de Adeilson Batista, importante odontólogo e historiador. Em breve, traremos em parceria com o administrador de empresas e agropecuarista Jeová Vieira, mas informações interessantes sobre a história desta família, especialmente em Orizona.
Ficando órfão de mãe, Jacintho Jr teve o cuidado de mulheres escravizadas e da segunda esposa do pai, Anna Rosa da Conceição. Seu pai Jacintho, o tio Francisco, a tia Justa Zeferina e os irmãos Maria Roza de Jesus, Antonio e João Pereira Cardoso foram os pioneiros da família a ocupar o sertão de Santa Cruz, ainda na década de 1830. Jacintho, o pai, vivia em Vai-Vem (Ipameri), Francisco Pereira Cardoso na região da Cachoeira, a tia Justa, viúva de Manoel Pereira Cardoso Filho, tinha terras na Firmeza e Taquaral. O irmão João, Antonio e Maria viviam no Vai-Vem. O irmão Francisco (Chico Grosso) também foi para a Cachoeira e José Pereira Cardoso, apesar de não termos documentos sobre a sua chegada, estava casado com a primeira esposa e foi viver na região da Pedreira de Baixo, Santa Luzia (Luziânia). Depois, todos esses foram expandindo seus domínios para onde hoje é Orizona, num grande raio a partir da Cachoeira. Diferente do que se pensa, essas famílias mantiveram o vínculo com as comunidades de onde vieram (Minas Gerais) e tinham ali, propriedades e negócios.
Jacintho Júnior, mesmo antes da vida matrimonial, já possuía terras sob a sua responsabilidade. Da herança de seu pai, falecido antes de 1857, pelo menos parte foi vendida ao irmão Francisco. Parte de suas terras vieram também da herança junto ao sogro Fulgêncio de Sousa França, da região do Taquaral, falecido em 1856 (ver o blog Historiografia para Catalão).
Casou-se com Balbina Maria de Jesus, filha de Fulgêncio e Rita Maria de Jesus, na Capela de Nossa Senhora do Rosário de Santa Cruz em 09 de outubro de 1848, tendo como celebrante o padre Antonio Francisco do Nascimento e padrinhos, Antonio Rodrigues do Nascimento e Manoel Pereira Cardoso. Do consórcio, tiveram os seguintes filhos:
1. Eduardo Pereira Cardoso, casado com Ana Vieira de Jesus; depois com Carolina Vieira de Jesus; e Theodora Maria de Jesus.
2. Nicolau Pereira Cardoso.
3. Zeferina Maria de Jesus, casada com Emídio Correa Peres.
4. Carolina Maria de Jesus, casada com Gabriel Pereira da Cunha.
5. Terêncio Pereira Cardoso, casado com Rosenda; e depois casado com Paula Francisca Piedade.
6. Antonio Pereira Cardoso.
Jacintho Júnior, além da atividade agropecuária, teve uma importante carreira política, representando os interesses de Campo Formoso ou Correia junto a Santa Cruz. Em 1866, no esforço da chamada Guerra do Paraguai, doou o dízimo, juntamente com outros produtores, para auxilio à Província de Goiás.
Em 1869, foi listado na seleta e restrita relação de votantes de Santa Cruz, que podiam se tornar vereadores. Em 1872, teve 79 votos em Santa Cruz enquanto candidato a deputado provincial, o sexto mais votado no colégio. Em 1873, foi nomeado terceiro suplente de juiz municipal e de órfãos, tendo prestado juramento à Câmara Municipal em 19 de junho daquele ano. Novamente foi nomeado para a função em 1876. A partir desta data, não temos registros a respeito de Jacintho.
Dentro da família de Jacintho, a maioria se dedicou a agricultura e aos cuidados domésticos. Eduardo era famoso carreiro e Terêncio, que herdou parte dos dons do pai, também se dedicou a política e ao serviço público, além de ter mantido uma pequena farmácia, sob orientação da tia Maria Vieira d’Abbadia, esposa do Cap. José Pereira. O povoado do Taquaral foi construído em área doada pela família de Eduardo Pereira Cardoso. Sua terceira esposa, Theodora, foi quem se encarregou de providenciar a transferência da documentação da área da Capela para a Paróquia Nossa Senhora da Piedade.
Taquaral é uma região que cresceu e se fortaleceu muito aos longos dos anos, graças a um forte espírito comunitário e associativista. Desde meados de 1770, quando foi aberta a picada de Santa Luzia a Bonfim (Silvânia), que corta a região, o povoamento aumentou e cresceu mais a partir dos anos de 1820, com a onda migratória de Minas Gerais para o sul de Goiás. Viajantes estrangeiros nas primeiras décadas do século XIX também passaram por ali e teve quem registrasse a respeito. O marechal Cunha Mattos, registra em seu diário de viagem que em 31 de agosto de 1823 dormiu na beira do ribeirão Santana e que, graças a um oficial contador de histórias presente em sua comitiva, teve muito medo. O mesmo contava que uma sucuri que maior não tivesse vivia por ali e atacava as pessoas, causando algumas vítimas.
Além dos descendentes de Fulgêncio e Jacintho, tempos também os que vieram depois de José Francisco Correa, Manoel Joaquim Bastos, Francisco Rodrigues Xavier, além de outras famílias que vieram para região e também contribuíram com a comunidade desde então. Por que não falar dos Cunhas, Vieiras, Oliveiras, Martins, Linos, Guimarães e muitos outros?

APÊNDICE POLÊMICO:
O sogro de Jacintho, Fulgêncio de Sousa França ou Fulgêncio Caetano de Sousa, veio de Itabira do Mato Dentro, em Minas Gerais. Instalado na região do Taquaral, tinha propriedades confrontantes com os Correas, os Barbosas, os Sousa Bastos e os Fernandes de Castro. Conforme registros dos padres Ramiro de Campo Meirelles e José Trindade da Fonseca e Silva, foi esse mesmo Fulgêncio que construiu inicialmente a capela, que foi doada por João Correa Peres.
Alguns estudiosos da história orizonense considera o Esboço Histórico da Paróquia N. Senhora da Piedade Orizona – Arq. De Sant´Ana – Goiaz (1945) descabido ao fazer essas afirmações, mas, depois de tanto buscar entre as traças, acredito que é o mais plausível. João Correa é uma figura muito presente na metade do século XIX em Santa Cruz e Capela dos Correas, assim como Antonio, José Arcângelo e Bento, todos filhos de Jozé Correia Peres, originários de Santa da Barra do Espírito Santo (Santana dos Patos), hoje distrito de Patos de Minas. Sobre Fulgêncio, não encontramos nenhuma informação, a não ser de Fulgêncio Correa Peres, filho de Zeferina Maria de Jesus e Emídio Correa Peres e portanto, bisneto do outro Fulgêncio (informação dada por José Correia a Jeová Vieira). Obviamente este viveu bem mais recentemente.
Esse impasse histórico inclusive foi citado em ORIZONA: CAMPO E CIDADE (2010), de Olímpio Pereira Neto.
Agradeço também às contribuições do amigo Paulo Sampaio, gestor da cultura em Pires do Rio, que nos disponibilizou informações importantes para esse texto.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA
(E-mail: anselmopereiradelima@gmail.com)

Foto: Nilsinho Vaz.

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